O setor da construção civil deverá fechar 2014 com o pior resultado dos últimos 14 anos. Diante do fraco desempenho da economia, término de empreendimentos da Copa do Mundo e dificuldade para aumentar os investimentos em infraestrutura, a previsão é que o Produto Interno Bruto (PIB) do setor reverta o quadro de crescimento robusto dos últimos anos e caia 6,2%, segundo cálculos da consultoria GO Associados, apresentados no boletim da Associação Paulista de Empresários de Obras Públicas (Apeop).
No ano passado, a construção civil teve participação de 5,4% no PIB total do País e empregou mais de 2 milhões de trabalhadores. O melhor resultado ocorreu em 2010, quando o PIB do setor avançou 11,6%, influenciado, em especial, pelo boom imobiliário. De lá para cá, o crescimento das atividades do setor foi um pouco mais modesto. Em 2013, avançou 1,6% e criou apenas 48 mil postos de trabalho (abaixo dos 95 mil de 2012), segundo o boletim da Apeop.
No segundo trimestre deste ano, o nível de atividade do setor despencou 8,6% comparado a igual período de 2013. O sócio da GO Associados, Gesner Oliveira, responsável pela elaboração do boletim da Apeop, explica que o desempenho é resultado da combinação de uma série de fatores. Entre eles, o atraso e adiamento de obras de infraestrutura, elevação do endividamento das famílias e arrefecimento do mercado imobiliário.
Segundo o Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais e Comerciais de São Paulo (Secovi), de janeiro a julho deste ano as vendas de imóveis novos caíram 49% e o número de lançamento de novas unidades, 21,5%, comparado a igual período de 2013. “Tivemos um ano atípico, com carnaval tardio, Copa do Mundo e uma reviravolta nas eleições. Esse cenário de incerteza causou uma freada no setor”, afirmou Claudio Bernardes, presidente do Secovi-SP.
Ele projeta uma melhora no segundo semestre, mas não o suficiente para reverter o quadro negativo de 2014. A expectativa é que as vendas fechem o ano com recuo entre 20% e 25% e os lançamentos, entre 15% e 20%. Neste momento, avalia o executivo, é difícil traçar um panorama para 2015. “Vamos ver o resultado das eleições e o enfoque que será dado ao setor. Podemos ter uma onda de otimismo ou de pessimismo.”
Além do mercado imobiliário, os números do segundo semestre devem refletir o fim das obras da Copa do Mundo, como a construção dos estádios. Esses projetos foram concluídos e não entrou nada no lugar, já que o ritmo dos investimentos em novos projetos de infraestrutura está lento. Os programas voltados para portos e ferrovias, por exemplo, que representam grande volume de mão de obra e contratos bilionários, ainda não saíram do papel. Há expectativa de que depois das eleições algumas licitações sejam feitas, mas os efeitos práticos no setor não são imediatos.
Uma notícia positiva para o setor é a continuidade do programa Minha Casa, Minha Vida, com 350 mil novas unidades a partir do ano que vem, diz o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon), José Romeu Ferraz Neto. Mas esse é apenas um dos negócios do setor. Se não houver reação em outras áreas, a recuperação da atividade fica mais difícil. Ele afirma que o nível de emprego está estável, com quedas pontuais em algumas regiões. “Mas estimamos que vai ocorrer uma queda no nível de emprego até o fim deste ano.”
De acordo com o boletim da Apeop, apesar do ritmo mais lento na criação de empregos, a única categoria da construção que fechou vagas até agosto deste ano foi a de “outras obras de infraestrutura”, que demitiu 3,2 mil pessoas. Nos demais setores, como construção pesada, obras de energia, telecomunicações, água, esgoto e transportes, o saldo do ano continua positivo, mas a abertura de novos postos de trabalho está mais lenta. “Houve uma deterioração do cenário macroeconômico, especialmente no curto prazo”, diz o presidente da Apeop, Luciano Amadio.
Segundo ele, uma sondagem feita no setor mostra que os empresários de obras públicas estão pessimistas com o comportamento da economia brasileira neste ano. Para 80%, o sentimento em relação à economia piorou ou piorou muito para os próximos três meses. A expectativa melhora um pouco quando considerados os próximos 12 meses.
Na opinião do presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), José Carlos Martins, esse pessimismo reflete a reversão dos números do setor. “No começo do ano pensávamos que conseguiríamos crescer 2,5%. Mas aí a economia desaqueceu, as obras da Copa terminaram e o resultado foi piorando.”