Não existe qualquer explicação plausível que possa justificar os votos de 265 deputados federais que decidiram absolver a colega Jaqueline Roriz, gravada em vídeo recebendo dinheiro da corrupção no Distrito Federal. Apenas 166 parlamentares honraram suas calças ao pedir a cassação, seguindo a recomendação do relator. Os demais, incluindo os 10 que se abstiveram de votar e os ausentes na sessão da última terça-feira, podem ser considerados tão corruptos quanto à acusada que teimosamente absolveram.
Por uma questão corporativa e danosa para a democracia brasileira, os nobres parlamentares ainda têm a possibilidade de votar de forma secreta em questões tão importantes para o país. Assim, diante das câmeras, a maioria dos parlamentares que usou a tribuna da Casa no dia da votação discursou contra Jacqueline. Salve um ou outro deputado que saiu em defesa dela, os termos de acusação bastante pesados eram suficientemente convincentes. Não era possível admitir que pessoas sérias aceitassem conviver no mesmo ambiente com uma criminosa pega
Porém, a argumentação da defesa, de que ela praticou o ilícito antes de ser deputada federal, pareceu mais forte. Ainda mais quando o advogado – em tom quase de ameaça – falou que a cassação poderia abrir precedentes para que outros parlamentares viessem a ser condenados por crimes anteriores aos mandatos. Com certeza, aqueles que sabem ter culpa no cartório, preferiram se esconder no voto secreto e absolver a colega.
Porém, toda vez que os deputados (excetudando os 166 que votaram pela cassação) agem de forma corporativa, eles dão mais um golpe na democracia. Agem de acordo com suas conveniências, deixando para trás o interesse público. Não a toa, o Congresso Nacional é uma instituição que cai em descrédito a cada ação que poderia reverter uma imagem que vem sendo desgastada há anos.
Não houvesse a possibilidade dos deputados se esconderem atrás do voto secreto, com certeza, o destino de Jacqueline Roriz seria outro. Talvez, muitos desses 265 “picaretas com anel de doutor” iriam agir de acordo com o interesse daqueles que os elegeram.