A chegada do coronavírus no Brasil está modificando a rotina dos funcionários no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, e criando novos hábitos entre os passageiros. Os trabalhadores usam novos equipamentos de proteção individual (EPIs), como máscaras e luvas. Os viajantes incorporaram novos itens antes de fechar a mala para viajar: o álcool gel – e também as máscaras.
A preocupação com a epidemia do Covid-19 mudou o ambiente do aeroporto. Os passageiros adotaram as máscaras – cena comum nos terminais de embarque e desembarque – e também o álcool gel, utilizado para higienização das mãos. Os dois itens se tornaram comuns nas bagagens.
A estudante de Nutrição Jordana Oliveira Costa acabou de retornar. Ela comprou uma caixa com 50 máscaras quando viajou para os Estados Unidos para passar as férias com a tia, Sirlei Costa. Lá comprou mais. Não tirou o acessório para nada durante os 33 dias que ficaram na Califórnia, de 29 de janeiro a 4 de março. "A gente se preocupou desde o início da viagem. Só tiramos as máscara para comer ou quando percebíamos que era hora de trocar", diz a moradora de Goiânia.
De partida para um passeio de 15 dias a Londres, o aposentado Edvaldo Monteiro de Oliveira está levando 20 frascos de álcool gel na bagagem. No setor de embarque do aeroporto de Guarulhos, ele também estava com uma máscara. "Não existe motivo para pânico, mas é melhor prevenir", afirma. "Foi uma das primeiras coisas que coloquei na mala", completa.
Esse comportamento fez o consumo de álcool gel disparar. Estudo da Nielsen, empresa de pesquisa de mercado, aponta que as vendas do produto cresceram oito vezes entre janeiro e fevereiro.
A preocupação com a prevenção também fez com que a família do investidor Wilian Guedes fosse inteirinha de máscara ao aeroporto. Além dele, estavam a mulher, Gisele Ferraz, a filha, Anajara Ferraz, e Marina Souza Santos. Eles foram receber Meiri McDonalds, filha da Marina, que também chegou mascarada de Orlando, na Flórida. "Falta ao Brasil um pouco de prevenção. A gente só se preocupa depois que os casos acontecessem", aponta Gisele, que é fisioterapeuta.
<b>Funcionários incorporam as máscaras</b>
A presença de profissionais com máscaras e luvas evidencia a presença da doença que já tem oito casos confirmados no País. O uso se intensificou nas últimas duas semanas.
A reportagem presenciou na quinta-feira, 5, a utilização de luvas e máscaras por grande parte do funcionários das áreas de atendimento, limpeza e higiene ou organização dos espaços, como os responsáveis por recolher os carrinhos de bagagem.
Juciléia Maria é uma dessas profissionais. Funcionária de uma empresa terceirizada há três meses, ela conta que se sente mais segura com a proteção. Ela não tem ideia de quantos carrinhos recolhe diariamente no Terminal 3 muito menos de quantas mãos passam por ali. "Muitas pessoas usam os carrinhos diariamente e a gente não sabe quem está com o coronavírus. É uma segurança para nós", diz Juciléia.
Rodrigo Maciel, presidente do Sindicato dos Aeroviários de Guarulhos (Sindigru), afirma que não existe uma determinação oficial da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre o uso de máscaras e luvas para os aeroviários (que trabalham no solo) e aeroportuários (infraestrutura). "Desconheço uma orientação ou determinação oficial da Anvisa.
"Nós orientamos as empresas, que estão oferecendo os equipamentos de proteção. Também desenvolvemos um canal de denúncias para dar suporte aos funcionários que não estão recebendo luvas e máscaras", afirma.
Números do sindicato apontam mais de 20 mil trabalhadores no local. Na opinião do sindicalista, a ocorrência de 3,2 mil mortes e mais de 95 mil infectados pelo novo coronavírus deixa os trabalhadores preocupados. "Esta situação está deixando todos apreensivos por não depender somente da nossa atuação como fizemos em outras contingências".