A pandemia de coronavírus pegou "todo mundo de surpresa" na Fórmula 1 e na Federação Internacional de Automobilismo (FIA), afirma o médico brasileiro Dino Altman. De acordo com o vice-presidente da comissão médica da FIA, nem a categoria e nem a entidade estavam preparados para o surto que se espalhou pelo mundo e acabou cancelando o primeiro GP da temporada, na Austrália.
"Pegou todo mundo de surpresa, óbvio", disse Altman, ao Estado, dois dias antes do cancelamento da corrida australiana. Segundo o médico, que integra a FIA desde 1998 e é o diretor médico do GP do Brasil desde 2001, a FIA criou um "comitê de crise" há duas semanas para começar a acompanhar a situação do coronavírus. "É uma conversa constante que existe entre a Organização Mundial de Saúde (OMS), FIA, a Liberty Media proprietária da F-1 e os promotores de corrida. É uma situação bastante complexa."
Esta preocupação foi manifestada em comunicados divulgados pela FIA nos últimos dias. Mais diretamente, a F-1 já havia adiado o GP da China, que seria disputado em abril. Além disso, os promotores do GP do Bahrein decidiram realizar a prova com os portões fechados, no dia 22.
"Eu nunca tinha visto isso antes. Não me recordo de nada disso. Já vi o público não comparecer a alguns eventos por conta de medo de pegar alguma doença. Mas isso, por iniciativa própria, e nunca por ordem governamental ou por diretrizes da OMS", afirmou Altman.
Nesta quinta, a McLaren surpreendeu as demais equipes ao anunciar que não disputaria o GP da Austrália, neste fim de semana, porque um dos seus integrantes havia contraído o novo coronavírus. Antes do anúncio da McLaren, outras equipes já haviam revelado suspeita de contaminação de alguns dos seus membros. A Haas informara que testes realizados em quatro funcionários deram negativo.
Antes da desistência do time britânico, a maior preocupação recai sobre integrantes da Ferrari e da AlphaTauri, cujas sedes ficam na Itália, epicentro do surto na Europa. O tradicional time italiano chegou a correr risco de não entrar na Austrália em razão do veto do país a viajantes daquele país.
Após o cancelamento da prova na Austrália, segue a preocupação com outras etapas do calendário, como o estreante GP do Vietnã, marcado para 5 de abril, e o GP da Holanda, que estará retornando ao Mundial e abrirá a temporada europeia em 3 de maio. "Imagine você fazer o primeiro GP lá depois de tantos anos e com o Verstappen em alta, sem público? Seria uma comoção nacional", aponta Altman. A aposta da F-1 é de que em maio as temperaturas estarão mais elevadas e a pandemia estará mais suave.