Aos 89 anos, morreu na noite de sábado, 17, no Rio, o ex-vereador Wilson Leite Passos. Ele tinha câncer de pulmão e estava internado desde o dia 31 de agosto na Clínica São Carlos, no bairro do Humaitá, zona sul do Rio. Personagem da história do Brasil por ter sido o autor do primeiro pedido de impeachment de um presidente – de Getúlio Vargas, em 1954 -, ele descobriu a doença há três anos e oito meses, segundo a mulher dele, Maria, com quem vivia há 19 anos. Seu corpo foi cremado nesta segunda-feira, 19, no Crematório do Memorial do Carmo. Foi um pedido de Leite Passos, deixado em testamento, que a cremação só se desse 48 horas depois de seu óbito.
“Ele ficava lúcido 98% do tempo, mas depois ficava desorientado”, contou Maria. Há cinco meses, a reportagem entrou em contato com ela para que pudesse intermediar uma entrevista com Leite Passos, na esteira do processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff. Mas Maria informou então que ele não tinha condições de dar declarações. Ele passou os últimos dias em coma induzido.
Nascido no dia 9 de dezembro de 1926, o político tinha formação em administração pública e relações públicas. Não teve filhos. Registrou a união estável com Maria havia três anos. No apartamento em que viviam, no Leme, na zona sul, não recebia visitas. Terminou a vida isolado. A mulher lia para ele notícias sobre o processo de impeachment e as investigações da Lava Jato, mas ele não reagia mais. Depois de uma inflamação no cérebro, alimentava-se se de alimentos pastosos e pouco conversava.
Vereador no Rio por oito mandatos seguidos, uma das figuras mais controversas do Legislativo carioca, Leite Passos concluiu a carreira política em 2008 – tentou uma última reeleição em 2012, pelo PP, mas não se elegeu. Dizia-se defensor de “valores morais e cívicos” e das Forças Armadas.
Na condição de militante da União Democrática Nacional (UDN), partido conservador que ajudaria a fundar em 1945, ainda bem jovem, ele tornou-se célebre por assinar o pedido de impedimento de Getúlio. A proposta foi rejeitada no dia 16 de junho de 1954 pela Câmara Federal por 136 votos a 35, com 40 abstenções.
Eleito quatro anos antes, derrotando a UDN, o presidente foi acusado de corrupção, de tentar uma “república sindicalista” no Brasil e de favorecer o jornal “Última hora”. Getúlio acabaria se matando menos de dois meses depois, no dia 24 de agosto. Leite Passos tinha 27 anos à época e era jornalista – teve passagens pelo Correio da Manhã e A Notícia.
Com discurso anticomunista, foi apoiador do golpe militar de 1964 e criador do Serviço Municipal de Eugenia, atuante de 1956 a 1975, que fornecia orientação a casais jovens para que obtivessem “filhos sadios e famílias equilibradas”. A iniciativa rendeu a pecha de “nazista” e “racista”. Seus opositores na Câmara dos Vereadores sustentavam que ele era antissemita declarado. Negava o holocausto. Mantinha como tesouro uma pistola alemã de um oficial nazista da Segunda Guerra, que ele acreditava ter sido usada para matar “muito comunista”.