Opinião

Cotas e preconceitos entre iguais


Se o Supremo Tribunal Federal decidiu, por 10 votos a zero, que o sistema de reservas de cotas para negros em universidades é legal, quem sou eu para discutir essa questão? Sou um cidadão, com bom nível de informações e bastante rodado, a ponto de falar em alto e bom tom que não concordo. O que isso importa? Pouco ou quase nada? Paciência.



Para achar essa decisão uma balela sem fim, porém longe de querer arrumar confusão com aqueles que pensam diferente de mim, parto de alguns princípios, tanto legais como religiosos. A Constituição determina que todos são iguais perante a lei. Porém, determina tratamento desigual aos desiguais. Contradição? Sim. Se todos são iguais, não haveriam desiguais, certo? Errado tratando-se de Brasil.



Em relação a Deus, tem uma musiquinha que curti muito uns 20 e poucos anos atrás que falava mais ou menos assim. “De que cor é a pele de Deus?” E em seguida respondia: “Preto, vermelho, branco, seja qual for, todos são iguais aos olhos do Senhor”. Aí, olho em volta e percebo que estou cercado de gente das mais diferentes origens, mas que são iguais.



De volta às lógicas dos homens, aprendi desde pequeno – descendente que sou de uma família de italianos humildes, que chegaram ao Brasil com uma mão na frente e outra atrás, mas que venceram na vida trabalhando – que não existem diferenças raciais. Jamais, meus pais pregaram algo diferente. Mas reconheço que na escola, mesmo na pública onde estudei parte do fundamental e médio, havia um número bem menor de negros do que brancos. Porém, era algo que passava despercebido, porque também meus mestres tratavam todos iguais.



Porém, de uns tempos para cá, em nome da igualdade racial, justamente quem levanta essa bandeira prega o preconceito de forma velada. Ao defenderem cotas, revelam a defesa da desigualdade. Brancos pobres, por exemplo, não podem gozar dos mesmos benefícios do que negros melhor sucedidos financeiramente. Já que não há cotas para os brancos nem para os amarelos mais humildes.



Só que o STJ entende que a diferenciação é legal a fim de reparar erros de um passado muito distante, quando os negros – em virtude da escravidão – eram segregados. Por mais que digam que o acesso ao ensino lhes foi negado durante muito tempo, não consigo aceitar que se institucionalize a cor da pele, ignorando o sangue. Como se os imigrantes japoneses também não tivessem comido o pão que o diabo amassou até se fixarem no país. Ou mesmo os descendentes de judeus, que aqui chegaram foragidos dos horrores da guerra, entre outros grupos que avançaram.



Canso de ver negros muito bem sucedidos social e financeiramente, já que trabalharam para isso e merecem estar em posições diferenciadas. Volto a música para lembrar à unanimidade – que pode ser considerada burra – do STF, que “todos são iguais aos olhos do Senhor. Preto, vermelho, branco, seja qual for…”


Ernesto Zanon


Jornalista, diretor de Redação


do Grupo Mídia Guarulhos,


escreve neste espaço na edição de sábado e domingo


No Twitter: @ZanonJr


 

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