As empresas do setor de reciclagem de materiais têm sido muito afetadas pela pandemia do novo coronavírus. A maioria das mais de 5,5 mil companhias do ramo de processamento e venda de sucata de ferro e aço tiveram que paralisar parte das suas atividades por conta da forte redução na coleta seletiva, do trabalho do catador e na demanda das usinas siderúrgicas, que usam a sucata na produção de aço.
Segundo Clineu Alvarenga, presidente do Instituto Nacional das Empresas de Sucata de Ferro e Aço (Inesfa), a sucata coletada e processada já chegou a cerca de 830 mil toneladas ao mês e hoje está em menos da metade.
Alvarenga ainda lembra que a queda na operação dessas empresas também afeta o meio ambiente e provoca a criação de focos transmissores de doenças como a própria covid-19, dengue, chikungunya, zika e febre amarela. "Quanto mais longo o período de exposição dos materiais recicláveis na natureza, maiores os riscos de contaminação", afirma.
Composto em sua maioria por pequenas e médias empresas, o setor de reciclagem não tem conseguido se sustentar durante a crise, e a maior parte dos cerca de 1 milhão dos catadores de materiais recicláveis não tiveram acesso ao auxílio emergencial de R$ 600 disponibilizado pelo governo federal, conforme diz o presidente da Associação Nacional dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis (Ancat) e representante do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), Roberto Laureano da Rocha.
Para seguir com as atividades durante a pandemia, a Ancat enviou um manifesto à Presidência da República pedindo que a função de catador de recicláveis seja reconhecida como essencial. O documento foi assinado por associações de catadores, deputados federais e entidades representativas de segmentos da indústria e comércio. Apesar do manifesto, o pedido não foi atendido pelo governo federal.
Rocha reclama da falta de diálogo do Executivo com representantes da classe. "Atualmente não temos nenhum acesso ao governo federal. Os programas que existiam voltados aos catadores foram cortados na atual gestão", afirma Rocha. Ele acrescenta que "a paralisação dos catadores durante a pandemia afetou diretamente a cadeia de reciclagem".