Porto da Igreja não é uma vila, um jardim. É um bairro, e com indústrias importantes. No entanto, muito pouca gente mora lá. O censo do IBGE de 2010 contou 82 habitantes: 39 homens e 43 mulheres.
Uma projeção do IBGE para Guarulhos indica que, de 2010 a 2016, a população do município aumentou menos de dez por cento. A de Porto da Igreja, se aumentou, não chegou a tanto.
Em que fim de mundo se esconde esse lugar, que só tem quatro ruas? Não se esconde. Está entre as duas principais entradas de Guarulhos, para quem chega de São Paulo pela via Dutra: entre o pontilhão que leva à avenida Tiradentes, e o viaduto estaiado.
Bem perto desse viaduto vê-se o edifício de vidraças coloridas da indústria farmacêutica Aché. Pois ali é Porto da Igreja, como também, um tanto atrás, está o Tiro de Guerra.
Como era, afinal, essa igreja? Se alguém for ao Bar Retorno, o único do bairro, encontrará a resposta. De trás do balcão, Michelina Tarsitano falará de singela capela que existia perto de onde hoje está o ginásio Fioravante Iervolino.
Michelina Tarsitano, que cuida do Bar Retorno
Ou seja, bem no acesso ao pontilhão que vai dar na avenida Tiradentes – por muitos anos a principal entrada da cidade.
– Era uma igrejinha branca, bem simples, e tinha também uma escola – diz Michelina. – Por aqui só existia uma rua, as pessoas iam e vinham por ela.
O Bar Retorno e a casa dos proprietários, ao lado, são um minúsculo ponto não engolido pela sequência de grandes áreas industriais. Estas surgiram a partir dos anos 1960, atraídas pelo fácil acesso e a isenção de impostos municipais.
Esclarecida a questão da igreja, no nome do bairro, por que o Porto? Isaias Correia de Salles, morador, pintor de paredes, explicará facilmente.
Isaias Correia de Salles
– É que tinha um porto aí no rio Tietê. Nesse porto eram desembarcados os bois que iam para o matadouro que existia aqui.
O matadouro e o porto desapareceram há muitos anos. Mas ainda em terras de Porto da Igreja havia uma área chamada Vargem do Palácio.
– Eram lagoas de onde o pessoal tirava areia. Eles cavavam a areia e levavam para umas caçambas, na balsa. A balsa era com cabo de aço (puxado à força dos braços). Na outra margem, que é São Paulo, estavam os caminhões que levavam a areia embora.
A mais comprida rua do bairro, a Luiz Rodrigues de Freitas, acaba em uma casa atrás da qual passa a rodovia Ayrton Senna. É ali que moram Odenailson Ferreira Rios, o Sassá, e a filha Giovana, de dezessete anos.
Odenailson Ferreira Rios e sua filha Giovana
O problema deles, e dos outros moradores, é que em Porto da Igreja não há comércio de nenhuma espécie – se excetuarmos o bar tocado por Michelina Tarsitano, uma casa particular que oferece refeição, e dois motéis. E não entra ônibus.
Logo cedo, Odenailson leva Giovana para a escola, no centro de Guarulhos. Depois entra no trabalho e a moça tem que resolver sua vida a pé ou de ônibus. É com a segunda opção que volta para casa. Mas o ponto do ônibus fica perto do pontilhão, muito longe da moradia.
Para ir ao supermercado caminha pela comprida Luiz Rodrigues de Freitas e por ruas mais curtas. Chega ao pontilhão sobre a via Dutra, atravessa, continua a andar e entra no Walmart.
– São mais de quarenta minutos de caminhada – diz a moça.
Sassá não tem problemas. A menos de cem metros de sua casa está a entrada da indústria Lepe, que fabrica peças para veículos pesados e se instala em área de 24 mil metros quadrados. O pai de Giovana trabalha ali como soldador há 24 anos, e há 28 mora nessa rua.
Problemas de segurança no bairro? Não, diz Sassá, que deixa o portão de entrada de sua casa mal encostado. Bastou o cronista bater palmas, Sassá apareceu lá adiante, no portão da empresa. O segurança de turno o havia alertado. Então caminhou até onde estava o intruso para saber o que queria.
Com tanta portaria, e tantos seguranças, Porto da Igreja, é, na definição de Giovana, “sossegado, gostoso de morar”.