O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), vai anunciar após o carnaval se autoriza ou não a instalação de uma CPI para investigar os resultados das pesquisas eleitorais. Autor do pedido, o deputado Ricardo Barros (PP-PR) disse que o objetivo é descobrir se os levantamentos feitos a partir de 2000 influenciaram o voto do eleitor.
“O que eu quero saber é se este resultado (da pesquisa) influencia ou não. Quero saber se essa divulgação de que fulano está na frente serve ou não serve como indução de voto”, disse Barros.
O deputado reciclou o pedido apresentado em 2012 pela mulher, a hoje vice-governadora do Paraná, Cida Borghetti (PROS). O projeto é visto como cerceador da liberdade de informar dos veículos de comunicação e de os cidadãos se informarem.
Barros nega que seu pedido contrarie a liberdade de expressão. “Eu não estou buscando cercear nada”, alegou. O deputado disse que ainda não sabe o que fazer a partir das eventuais descobertas no decorrer dos trabalhos da CPI. “Se nós conseguirmos provar que há influência no eleitor, há que se regular isso através de algum instrumento que eu ainda não sei qual seria.”
Para o deputado, é preciso criar uma CPI porque uma pesquisa poderia ser contestada. “Estamos tratando da lisura das eleições do Brasil. Não é qualquer assunto”, disse. “Quero fazer uma coisa para resolver o problema. Estou convencido de que é preciso ter consequência”, afirmou o deputado, que alega ter sido alvo de pesquisas “erradas”. “Já fui e meus candidatos já foram em várias situações”, afirmou, sem citar casos.
Cunha disse ser contra a CPI, mas afirmou ser obrigado a instalá-la, pois o requerimento recebeu aprovação dos técnicos da Câmara e foi o primeiro a ser protocolado na atual legislatura. Os funcionários da Casa atestaram que os pré-requisitos, como apresentar um fato determinado para investigação, foram cumpridos pelo autor.
Atentado
Os institutos de pesquisa discordam do deputado. “Informação faz parte do processo democrático. O cidadão usa ou não usa as informações que tem. Não é papel do Estado fazer com que as pessoas saibam isso ou aquilo”, disse a CEO do Ibope, Márcia Cavallari. “Quanto mais informação o eleitor tem, melhor toma sua decisão. Cabe a ele decidir se quer ou não usar a informação disponível, decidir se acredita ou não naquela informação.”
Para a CEO do Ibope, há um entendimento equivocado do papel das pesquisas de intenção de voto. “A pesquisa não tem a responsabilidade nem o papel de acertar o resultado da eleição. Ela é um instrumento de diagnóstico do momento em que foi feita. Seu papel é apontar a tendência da opinião pública, a intenção de voto, e não voto efetivo.”
“É, sim, um atentado ao direito de livre informação”, disse Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha. “Os políticos que usam tanto pesquisa, que gostam tanto de pesquisa, preferem que essa informação seja restrita a eles e aos partidos, porque sempre haverá um político, em algum momento, em posição desfavorável”, afirmou.