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Curada da Covid-19 após 115 dias, enfermeira terá longo tratamento contra sequelas

Márcia Zanotto, que precisa reaprender a andar sem a ajuda do andador, foi tratada pelos colegas de trabalho na Unimed Guarulhos

Profissional da saúde há 19 anos, Márcia Zanotto, nunca imaginou que precisaria tanto dos amigos de profissão para sobreviver ao coronavírus e conseguir contar sua história ao GuarulhosWeb, após 115 dias internada no Complexo Oito de Dezembro, hospital da Unimed Guarulhos. “Eu sabia que as pessoas gostavam de mim, mas não que eu era tão querida”, contou, emocionada, ao lembrar de sua saída do hospital, no dia 30/07.

Técnica de enfermagem da Unimed Guarulhos e da Policlínica Paraventi, ela sempre seguiu à risca todos os protocolos de prevenção e, desde o início da pandemia trabalhava normalmente nas unidades de saúde, até se sentir mal, no dia 2 de abril. “Eu acordei com febre e muito cansada. Fui trabalhar e procurei um médico, que fez o teste para Covid-19 e me deu um atestado de 14 dias”.

Em repouso e isolamento, dois dias depois do teste ela recebeu o resultado positivo para a doença da gerente assistencial do complexo hospitalar, Teresa Bento. “Eu conversei com a Márcia e nós estendemos a licença dela”, contou.

No dia 6 de abril, o estado de saúde da enfermeira começou a piorar. Márcia chegou ao hospital com falta de ar e, logo em seguida, foi diagnosticada com infecção generalizada no pulmão. “Os médicos conversaram comigo e me informaram que era necessária a intubação, um procedimento precoce para não agravar mais o meu problema”, explicou.

Foram 14 dias na UTI, até que a enfermeira teve uma pequena melhora. Passou a realizar procedimentos de recuperação, exercícios com ar para fortalecer o pulmão e já estava reaprendendo a comer e retomando suas funções motoras, quando teve complicações e voltou ao coma.

“Eu acordei 10 dias depois, muito irritada. Eu não entendia o que estava acontecendo. A equipe precisou fazer uma traqueostomia. O médico me explicou tudo que aconteceu e eu comecei a entender a gravidade da situação”, contou. 

Foram mais 54 dias internada na UTI e um mês de acompanhamento no quarto do hospital. A doença atingiu 90% da função pulmonar e o tratamento será longo. “Eu não vejo a hora de poder voltar a trabalhar. Minha profissão é o que eu amo fazer, eu estou agoniada. Hoje estou fazendo fisioterapia para voltar a andar sem a ajuda do andador e recuperar as minhas funções motoras. Será um caminho longo, mas em breve estarei de volta”, disse. 

Comoção dos amigos

A alta hospitalar de Márcia foi muito comemorada por toda a equipe. Assim como milhares de pacientes que se recuperaram da doença e passaram pelo corredor de aplausos, a saída da enfermeira não foi diferente.

“Que coisa linda, quando a porta do elevador abriu e eu vi todas aquelas pessoas. Parecia que meu coração estava batendo fora do peito. Eu sou muito grata a todos, que fizeram de tudo para que eu voltasse. Eu tive muita vontade de viver, mas o trabalho deles foi fundamental”.

Mudanças no atendimento

Teresa Bento explicou que a passagem da funcionária pela unidade de saúde foi o início de diversas mudanças e direcionamentos no tratamento da doença. “A Márcia foi internada logo no início da pandemia. A Unimed já trabalhava com um fluxo de direcionamento para o colaborador. Nós estávamos com as atenções voltadas para a doença e para as possíveis baixas que poderiam ocorrer”, explicou.

A gerente contou ainda que a enfermeira foi a primeira da equipe a ser internada com estado de saúde grave. “Neste período, a equipe foi aprendendo com ela. Aprendemos sobre a distância da família, sobre ter empatia, enxergar o paciente, a solidão no leito e outros pontos que precisavam receber atenção. O caso da Márcia foi um ‘start’ para muitas melhorias”, pontuou.

Atualmente, os pacientes e familiares recebem assistência humanizada, o que permite uma melhor troca de experiência. “Eu sempre acreditei que o paciente pode ser o João, a Maria ou o José, mas ele é amado e essencial para uma pessoa que está lá fora. É o ensinamento que a pandemia trouxe para nós. Eu olho para a equipe de enfermagem e os médicos e percebo que hoje eles não são os mesmos de antes”, relatou.

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