O bom humor nos mercados internacionais e a ausência de novidades negativas no front fiscal mantiveram os juros bem comportados até o encerramento da sessão, embora à tarde o ritmo de queda, que fora intenso pela manhã, tenha perdido bastante força. As taxas terminaram perto dos ajustes anteriores, ainda assim num comportamento surpreendente para um dia de IPCA acima do teto das estimativas, que levou várias instituições a revisarem para cima suas previsões para o índice fechado do ano. A surpresa, porém, não afetou a precificação de Selic na curva, na medida em que o mercado viu as pressões localizadas em alimentos e transportes em função de choques de oferta, sobre os quais a política monetária não tem ingerência. No balanço da semana, a curva ganhou inclinação.
O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 encerrou com taxa de 3,23%, de 3,194% ontem no ajuste e a do DI para janeiro de 2023, taxa de 4,67%, de 4,645% ontem. A taxa do DI para janeiro de 2025 passou de 6,564% para 6,55% e a do DI para janeiro de 2027, de 7,544% para 7,53%.
O IPCA de 0,64% em setembro, três vezes maior que a inflação de agosto (0,24%) e contra um teto das previsões que era de 0,61%, chegou a pressionar as taxas no começo do dia, mas o impacto foi sendo diluído pela manhã, diante da leitura mais detalhada dos preços na abertura do indicador. "Por mais que o IPCA tenha vindo salgado, não altera o padrão que temos visto, com pressões em alimentos e transporte explicada por mudanças de preço relativo, às quais o Banco Central não precisa reagir", afirmou o estrategista-chefe da CA Indosuez Brasil, Vladimir Caramaschi.
De todo modo, houve uma onda de revisões para o IPCA de 2020, mas que ainda seguem distantes do centro da meta de 4% ou perto do piso de 2,75%. Entre elas, a do Itaú Unibanco de 2,5% para 3,0% e a do Bank of America (BofA), de 2% para 2,7%. Esta última era uma das poucas casas que ainda esperavam outra queda da Selic este ano, para 1,75%, e agora ajustou sua previsão para manutenção em 2%.
Muito mais do que a inflação, o mercado vê o fiscal como a grande ameaça à estabilidade da taxa básica. "Não tem comparação a importância desse IPCA com a incerteza fiscal de curto prazo. A inflação mais alta reduz a chance de um novo corte da Selic, mas é um efeito limitado. O que poderia suscitar uma alta de juros agora seria o governo romper o compromisso com o teto, não uma reação a essa inflação", afirma João Fernandes, economista da Quantitas Asset.
Ao longo da semana, as várias declarações de integrantes do governo reforçando o compromisso com o teto de gastos e ontem o discurso conjunto do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do ministro da Economia, Paulo Guedes, em torno da agenda de reformas e recheado de elogios mútuos, retirou um pouco da pressão sobre a curva, apesar do enorme desafio do Tesouro para financiar a dívida.