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Da jovem Zelda Barnz, série Genera+ion mostra a fluidez de gênero da geração z

A estreia da comédia dramática Genera+ion, que acaba de chegar ao Brasil pela HBO Max, causou inevitáveis comparações com Euphoria, o sucesso da HBO estrelado por Zendaya. E a criadora fica lisonjeada. "No papel, elas podem parecer similares, mas na verdade Genera+ion realmente foca na representação LGBTQIA+", disse Zelda Barnz, de apenas 19 anos, em entrevista com a participação do <b>Estadão</b>. "Claro que Euphoria tem isso também, mas nós falamos essencialmente disso."

Genera+ion se passa numa escola em Orange County, na Califórnia, mas a abordagem é significativamente mais ousada do que a de The O.C., outro clássico teen ambientado na mesma região. Há Arianna (Nathanya Alexander), filha de pais gays, e a tímida Greta (Haley Sanchez), que é lésbica, Nathan (Uly Schlesinger), um bissexual no armário, e a ativista Delilah (Lukita Maxwell). A estrela da turma é Chester (Justice Smith, de Jurassic World: Reino Ameaçado), um adolescente sem medo de ser gay. "Eu me inspirei em Americas Next Top Model e Ru Pauls Drag Race para criar o jeito de ele andar e seu senso fashion", disse Smith. "Eu acho que os roteiristas foram muito corajosos de criar alguém extrovertido, barulhento, ousado, mas cheio de camadas. Porque muitas vezes gente assim é considerada superficial ou unidimensional. E Chester tem muita profundidade. Ele é provocador e autêntico, às vezes intimida os outros, o que afasta as pessoas.

Ele se sente solitário." O ator viu o papel como uma oportunidade de representatividade. "É uma pessoa LGBTQIA+ e negra, como eu, e não vemos muita gente assim em Anaheim. Eu sei porque sou de Anaheim. Imagino que muita gente vá se identificar com ele."

Zelda Barnz tinha apenas 16 quando começou a escrever a série, incentivada por seus pais, Daniel, que é um dos diretores, e Ben, produtor de Genera+ion. Ninguém achava que ia muito longe, mas Hollywood está sedenta por vozes originais e autênticas, e logo eles encontraram uma casa. "Eu realmente sinto que posso me conectar com adolescentes, porque tenho quase a mesma idade", disse Zelda, que é fã de séries mais antigas sobre essa fase, como Freaks and Geeks (1999-2000) e Friday Night Lights (2006-2011). "Eu entendo quais são as experiências do ensino médio hoje e o que é a escola moderna." Filha de dois homens, LGBTQIA+, precoce artisticamente, ela também se identifica com várias personagens.

Daniel Barnz acha que essa identificação é a chave para Genera+ion. "Nós ajudamos, mas não queríamos que a série fosse filtrada pela visão de um adulto. Ela dizia como esses adolescentes agem, qual seu visual, o que eles falam." Daniel Barnz gostaria de ter tido uma adolescência mais parecida com a dos jovens de hoje. "Por mais que tenham dificuldades, eles são muito abertos e corajosos. Acho inspirador."

Por exemplo, Zelda fez questão de que as redes sociais não fossem só vistas negativamente, como motivo pelo qual os adolescentes não se concentram. "Zelda acha que elas têm um papel importante, especialmente para quem é LGBTQIA+, que podem ver outros no mundo como eles", disse Daniel. Zelda Barnz também não queria que a série fosse só drama e tragédia. "Esse período é complicado, com muitos momentos negativos, mas também muita alegria", afirmou. "Acho que foi essa dicotomia que me inspirou a criar a série. Queria escrever algo que contivesse os altos e os baixos. Há muita alegria na vida de um adolescente, porque é uma hora de conquista de liberdade e independência, de poder dirigir, de poder sair só com seus amigos, sem a supervisão dos pais. E acho que isso se reflete na nossa série."

Na comparação com Euphoria, portanto, Genera+ion sai ganhando nas coisas que podem terminar em tragédia e dor. "Eu acho engraçado porque tratam as séries sobre adolescentes como um gênero. E ninguém faz isso com as séries sobre pessoas de 30 anos", disse Justice Smith, 25, fã de Minha Vida de Cão, no ar nos anos 1990. "Pode haver pontos em comum, mas Genera+ion coloca em discussão a sexualidade, a identidade sexual e de gênero e como tudo isso se manifesta na geração Z. Há muitas pessoas LGBTQIA+, o que é original. E não há drama por serem gays." Para o ator, é chegada a hora de mostrar que ser homossexual como Chester não é uma tragédia. "Claro que muita gente sofre, tem dificuldade de assumir. Mas esta não é uma história de pessoas tristes por serem gays. Esse peso diminuiu. Nesta geração, a sexualidade é muito mais aberta e fluida. A série é um sinal de progresso, o que é bonito de ver."

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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