O dólar caiu nesta quarta-feira, 20, ante o real, em linha com os pares emergentes, à medida que o mercado cambial segue apostando em medidas fiscais a serem tomadas pelo novo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. No discurso de posse, o democrata reafirmou o compromisso com o combate aos efeitos econômicos da covid-19, o que reforça a visão de que mais estímulos estão a caminho – sem a oposição da Casa Branca e com maiorias na Câmara e no Senado.
O investidor segue de olho também na política monetária brasileira, à espera de que o Comitê de Política Monetária (Copom) mantenha a Selic a 2%, mas retire o <i>forward guidance</i>, que, no limite, abre espaço para um aumento de juros em breve.
O dólar à vista fechou em queda de 0,63%, aos R$ 5,3118. No mercado futuro, o dólar para fevereiro caiu 1,28%, a R$ 5,2925.
O discurso de posse de Biden nesta quarta deu a tônica de como serão os próximos quatro anos da gestão democrata frente à Casa Branca. O novo presidente americano reforçou que o combate à pandemia de covid-19 não passa apenas pela questão sanitária, mas também pela união de toda a nação. Implicitamente, ele apoiou o tom usado na terça pela futura secretária do Tesouro, Janet Yellen, que defendeu ao Senado que era necessário aprovar o novo pacote fiscal de US$ 1,9 trilhão para "agir com grandeza" para superar a crise.
"Vimos desde cedo um movimento do mercado em torno da posse do Biden, na expectativa que se gerou em torno do governo dele com os estímulos fiscais", frisou a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack.
Em evento virtual do Centre for the Study of Financial Innovation, o economista Mohamed El-Erian, consultor-chefe do grupo Allianz e presidente do Queens College da Universidade de Cambridge, considerou apropriado o pacote fiscal trilionário proposto por Biden. "É uma resposta absolutamente certa", disse, ao reforçar que a liquidez que pode ser despejada na economia mundial este ano, em três frentes – fiscal, monetária e gastos das famílias – pode somar vários trilhões de dólares, entre 20% e 25% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial.
Mas o estrategista-chefe para mercados emergentes do Deutsche Bank, Drausio Giacomelli, ponderou que os países emergentes precisam fazer a "lição de casa" porque caso a economia americana ganhe muito impulso diante dos estímulos fiscais que estão sendo preparados, o dólar vai se fortalecer, afetando os fluxos.
"Isso não deve acontecer agora. Enquanto o mundo estiver em recuperação, o euro deve refletir melhor os fundamentos das economias dominantes na região e com espaço para apreciar ante o dólar. Mas a economia dos EUA pode ganhar tanta tração que passe a atrair mais recursos que a Europa, e podemos ver o euro novamente a US$ 1,15", comentou, em live promovida pelo jornal <i>Valor Econômico</i>. Mesmo em baixa nesta quarta, depois de indicadores fracos da zona do euro, a moeda comum operava a US$ 1,21.
Para Giacomelli, do Deutsche, a política monetária brasileira pode ter exagerado ao levar a Selic até 2%, mas que o Banco Central tem tempo para corrigir a rota. "Talvez devesse ter parado em 3%. Foi demais? Provavelmente, mas isso não tem gerado distorção séria na economia além da sobredesvalorização do real", opinou, ressaltando que atualmente a moeda brasileira é uma das mais depreciadas do mundo.
*Com Altamiro Silva e Denise Abarca