O infectologista David Uip, coordenador da equipe que combate a pandemia do novo coronavírus no Estado de São Paulo, afirmou que vai sugerir ao Ministério da Saúde que reduza o tempo de quarentena recomendado para pessoas que tiveram possível exposição ao vírus. O prazo atual, de 14 dias, tem por base a literatura médica já disponível sobre a doença.
"Tem um aprendizado novo", disse Uip, com base nos casos registrados em São Paulo. "Imaginávamos que o período de incubação ia até 14 dias. Estamos vendo que o período de incubação é mais curto. A média é de três a oito dias", afirmou Uip. "Por isso, vamos propor as mudanças. Nós vamos sugerir hoje (terça-feira) ao Ministério da Saúde que inclusive mude o critério de tempo da quarentena. Que diminua de 14 para 10, o que faz toda a diferença no impacto da força de trabalho, especialmente na saúde."
Ele também disse que os casos já registrados em São Paulo têm dado pistas sobre a gravidade dos quadros. "Outra coisa que estamos aprendendo é que a gravidade desses pacientes, que é a minoria (dos casos), se estabelece do terceiro ao sétimo dia", disse o infectologista. "No paciente grave, a doença se espalha mais rapidamente."
Em documento publicado no dia 29 de fevereiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou uma quarentena de 14 dias para quem esteve perto de pessoas com a covid-19, incluindo aqueles que prestaram cuidados a infectados e quem viajou perto de um deles. O Ministério da Saúde segue o mesmo padrão de isolamento.
Ainda de acordo com a OMS, a quarentena no início de um surto pode atrasar o pico de uma epidemia em uma área onde a transmissão local está em andamento. No entanto, a quarentena também pode criar fontes adicionais de contaminação e disseminação da doença, se for implementada de maneira inadequada.
Procurado para comentar a declaração de Uip, o Ministério da Saúde não se manifestou até as 20 horas.
<b>Riscos</b>
Para Paulo Olzon, infectologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a quarentena deve permanecer entre 12 e 14 dias. "Há um receio de que o Brasil se torne igual à Itália, onde a covid-19 se disseminou com rapidez. O País tem tomado algumas atitudes para que isso não aconteça, mas a quarentena precisa permanecer entre 12 e 14 dias."
Segundo Olzon, se o período for menor, "pode haver problemas justamente porque não há indícios suficientes de confirmação de possíveis casos".
Olzon destaca, porém, que ainda devem ser avaliadas as especificidades de uma epidemia em um país tropical. "Na Europa, hoje epicentro da doença, o frio faz com que a população sofra mais de gripe e pneumonia. No Brasil, a temperatura é melhor. A função respiratória protege a pessoa de doenças virais. Mas podemos também prever que o vírus se adapte à temperatura do Brasil." As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>