Desde 1980, em média cem trabalhadores percorrem de ônibus mais de 2 mil quilômetros que separam as cidades de Crato, no Ceará, e Arapiraca, em Alagoas, a São Paulo, para cumprir uma rotina que já virou tradição. Todos os anos, entre outubro e dezembro, eles desembarcam num galpão de 10 mil metros quadrados na Vila Leopoldina, na zona oeste da capital paulista, onde está concentrada a montagem das luxuosas cestas de Natal da Casa Santa Luzia. Além da passagem de ônibus, eles têm alojamento, refeições e assistência médica oferecida pela empresa. Eles recebem, em média, R$ 2.540 por mês.
“O diferencial desses trabalhadores é o comprometimento. Eles não negam fogo”, diz a diretora-geral da Casa Santa Luzia, Ana Maria Lopes, que representa a terceira geração da família dos fundadores da empresa. Ela lembra que boa parte dos temporários cumpre essa rotina há vários anos. “Tem até parentes no grupo.” Quando se contrata um temporário por aqui, o comprometimento não é o mesmo. “Se ele consegue uma vaga efetiva, desiste.” É exatamente esse risco que a empresa não pode correr se quiser manter a qualidade do produto num segmento de negócio, o de cestas de Natal, que começou nos anos 50.
Na época, lembra Jorge Lopes, sócio da empresa e responsável pela criação desse segmento de negócio até hoje comandado por ele, as cestas de Natal não eram comuns no Brasil. A empresa pioneira nesse mercado foi a Amaral, que vendia as cestas em 12 prestações mensais. As pessoas começavam a pagar a cesta em janeiro para recebê-la no fim do ano e ainda concorriam a prêmios. Mas, com o aumento da inflação, a fórmula não deu certo. “O valor arrecadado ao longo do ano não dava para comprar nada e a empresa quebrou.”
Atento aos problemas enfrentados pela concorrente, Lopes diz que resolveu entrar nesse segmento, mas de forma diferente. Começou a montar cestas com itens importados de alta qualidade e vendê-las para a elite paulistana. Posteriormente, o produto começou a ser comercializado para as empresas. A primeira foi a Vemag, representante alemã da DKV, que comprou 354 cestas no Natal de 1953.
Hoje, o negócio de cestas e presentes de Natal responde por 30% do faturamento do último trimestre, que a empresa não revela. Neste ano, serão montadas 200 mil cestas de Natal, entre 2% a 3% mais, em relação ao ano passado. O pico de produção de cestas ocorreu em 1992, quando foram 500 mil unidades. Posteriormente, a companhia decidiu reduzir o ritmo de produção, temendo a perda de qualidade.
Câmbio
Se no começo, 100% da cesta era composta por itens importados – hoje, eles representam 80%. Lopes, que aos 83 anos comanda diariamente a operação da montagem das cestas, anotando cada lote de produtos nas páginas de seu caderno espiral, copiadas com papel carbono, diz que o aumento da cotação do dólar em relação ao real não afetou o preço das cestas. Na sexta-feira, 12, o dólar fechou em R$ 2,659, alta de 13% desde janeiro.
Ele explica que a diferença de preço da cesta neste ano não é tão grande porque a companhia trabalha com dólar médio. Além disso, são negociados grandes volumes, o que aumenta o poder para barganhar preços com 150 fornecedores, a maioria estrangeiros. Só de uva passa são 25 toneladas, de torrones 100 mil unidades e de espumantes 125 mil garrafas.
De toda forma, a empresa, que começou vendendo cestas para a elite paulistana, adaptou-se ao tempos bicudos. Neste ano, pela primeira vez, itens asiáticos passaram a integrar a cesta. Trata-se de um biscoito no mais genuíno estilo inglês, mas fabricado na Indonésia. Detalhe: o preço em dólar é 10% menor. Outra novidade foi a redução do valor mínimo da cesta. Com três itens, todos nacionais, a cesta custa R$ 48. Mas o preço da mais sofisticada pode chegar a R$ 5 mil. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.