Em pouco mais de 40 dias, cerca de 8.100 barracos improvisados com lona foram montados na ocupação “Povo Sem Medo de Lutar – Guarulhos”, organizada pelo MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto). O grupo entrou em um terreno particular de 58 mil metros quadrados de extensão, no Jardim Centenário, região do Pimentas, no início de junho. Desde então , passaram e exige que a Secretaria Municipal de Habitação interceda junto à Caixa Econômica Federal para implantar no local um projeto habitacional ligado ao “Minha Casa, Minha Vida”.
O GuarulhosWeb foi até lá para conhecer a ocupação. A chegada ao terreno é impactante. Apesar da organização para que as famílias possam conviver em harmonia, é preciso adentrar ao local para entender como funciona a rotina de uma ocupação com a dimensão encontrada.
São 11 grupos divididos em um barracão central, onde acontecem as reuniões. Ali existem 10 cozinhas e 22 banheiros, masculinos e femininos. Não existe iluminação, energia elétrica ou água encanada. Para organizar a rotina de cada grupo, há coordenadores que são responsáveis por avaliar as necessidades e levar as demandas até os encontros diários, quando as decisões são tomadas em conjunto. Entre os moradores, não faltam regras de convivência. A agressão verbal é proibida. Caso alguém não cumpra o que é determinado pode ser convidado a se retirar.
O grande movimento da ocupação são as cozinhas que atendem cerca de 700 pessoas em três refeições diárias. Segundo o coordenador estadual do MTST, Zelidio Barbosa Lima, os alimentos oferecidos chegam a partir de doações ou através dos ocupantes que trabalham e conseguem ajudar.
Shirley Vasconcelos, de 44 anos, é uma das responsáveis pela cozinha do grupo 3. Na manhã desta quarta-feira (12), uma faxina estava sendo feita no local para receber os ocupantes para o almoço. Shirley contou que mora de aluguel junto com os dois filhos, de 10 e 17 anos, em uma casa próximo dali. Ela decidiu participar do movimento após perceber uma oportunidade de ter sua casa própria. Desempregada há um ano e meio, Shirley vivia de bicos e está se programando para mudar em definitivo para a ocupação onde permanece a maior parte do dia.
Voluntária da cozinha, Maria Aparecida Gomes dos Santos, de 53 anos, contou que sua rotina é bem movimentada. Ela e os seis filhos estão no local desde o início da ocupação e não pretendem sair. Na cozinha do grupo 8, nesta quarta-feira seria servido arroz, feijão, macarrão e linguiça. Segundo uma voluntária, diariamente são utilizados 5kg de arroz, 1,5 de feijão e os complementos são limitados a cerca de 1kg. “É pouco, mas a gente corta direitinho e todo mundo consegue comer”, explicou.
Durante o dia, a maior parte dos ocupantes permanece fora dos abrigos. Nas noites eles retornam para dormir. “Uma pessoa que tem condições de ter uma moradia não vem para cá ficar nessas condições precárias”, disse o coordenador.
Na visita do GuarulhosWeb até a ocupação por volta das 10h, desta quarta-feira, foi possível visualizar muitos barracos com aparência de abandonados. Segundo o MTST, muitos ainda estão consolidando suas estruturas e carregam colchões e objetos ao fim do dia, além de participarem de todas as assembleias convocadas.
Ao lado da ocupação existe um terreno vazio, que não foi utilizado pelas famílias. O coordenador explicou que já existe um projeto habitacional aprovado para a área administrado por um padre que contemplará as famílias sem moradias. Próximo ao terreno existem também um conjunto habitacional que teria sido finalizado há cerca de 1 ano.
Os ocupantes aguardam agora uma reunião com a Caixa para uma possível avaliação da área que possa levar a compra do terreno e a construção das moradias. A resposta deve ser encaminhada às famílias na segunda-feira (17).
A prefeitura informou na última semana que o proprietário da área já sinalizou a venda do local. Segundo o MTST o valor estaria em torno de R$ 600 a R$ 700 por metro quadrado.