Cientistas brasileiros descobriram um gigantesco ecossistema recifal “escondido” debaixo da pluma de água barrenta do Rio Amazonas que se derrama sobre o oceano na costa norte do Brasil – um lugar onde, teoricamente, esse tipo de ambiente não deveria existir.
Alojado em águas profundas, de até 120 metros de profundidade, o sistema todo é maior do que a região metropolitana de São Paulo. Tem cerca de 9,5 mil quilômetros quadrados, estendendo-se do norte do Maranhão até a Guiana Francesa.
A descoberta, relatada ontem na revista Science Advances, foi confirmada em uma pesquisa realizada em 2014 com o navio Cruzeiro do Sul, da Marinha. Os cientistas suspeitavam que poderia haver recifes ocultos na foz do Amazonas, por causa de algumas coletas pontuais, feitas anteriormente por pesquisadores americanos, e da alta produtividade da pesca regional de lagosta, pargo e outras espécies marinhas naturalmente associadas a ecossistemas recifais.
Ainda assim, quando puxaram as primeiras redes de coleta para cima, não acreditaram no que viram: uma enorme abundância de esponjas coloridas, corais e rodolitos – nódulos calcários construídos por algas coralináceas, também presentes em outros ecossistemas recifais do Nordeste.
“Descobrir um sistema desse tamanho e com essa complexidade nos dias de hoje é um alerta sobre o nosso desconhecimento dos ecossistemas marinhos brasileiros”, diz o pesquisador Rodrigo Leão Moura, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que liderou o estudo.
A maioria dos recifes está na faixa de 60 a 80 metros de profundidade, onde a quantidade de luz já é ínfima. Pior ainda quando se está debaixo da pluma de sedimentos do rio, que pode variar de 5 a 25 metros de espessura e se espalhar por até 2 milhões de km2, dependendo da época do ano.
Por causa dessa escassez de luz, a paisagem dos recifes é dominada por esponjas e algas duras (coralináceas), em vez dos tradicionais corais – que dependem da fotossíntese para sobreviver.
“É um ambiente muito mais complexo do que a gente imaginava”, diz o biólogo Gilberto Amado Filho, do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.