Poucas semanas atrás a tropa de choque do governo federal defendia com unhas e dentes a criação de mais um imposto, sob a desculpa de que faltavam verbas para financiar a saúde pública no país. Para felicidade geral da nação, a Câmara Federal sepultou a ideia, contrariando a orientação do Planalto, que ficou apenas com os votos dos deputados do PT. Agora, com a divulgação da arrecadação de 2011, percebe-se o grande descompasso do governo em relação às prioridades sociais.
A evolução dos gastos em áreas prioritárias está bem aquém da expansão recorde da arrecadação federal. Até agosto, a receita líquida do governo cresceu R$84,3 bilhões, ante o mesmo período do ano passado, o que representou um aumento de 18,8%. Mas apenas 10% dessa receita – R$8,4 bilhões – foram aplicados em gastos sociais. Foram só 10% diante de 18,8% da arrecadação.
Pasmem, mas a área de saúde foi a que menos ganhou, ficando com apenas 2% do aumento da arrecadação. Os gastos com a saúde da população cresceram 4,5%, o menor percentual entre os gastos sociais. Mais fácil empurrar goela abaixo da população um novo imposto para custear os gastos com saúde. A maior fatia ficou com a economia para pagamento de juros da dívida pública, dentro da estratégia de austeridade fiscal: R$40,1 bilhões, quase 50% do que entrou a mais nos cofres federais nos oito primeiros meses do ano. Para isso, parece não faltar recursos.
Ou seja, mais uma vez, há no país um flagrante desrespeito à inteligência da população. O governo só pensa em arrecadar mais, mas deixa a população sem assistência médica sempre sob a alegação de que não tem dinheiro, porém despeja tudo no pagamento de juros da dívida pública, justamente uma prática que era condenada quando os atuais responsáveis pela economia do país estavam na oposição.
É de se lamentar que importantes lideranças políticas ainda tenham a coragem de vir a público para defender que se onere mais a população, diante de tantas evidências que o governo federal está arrecadando muito mais do que investindo no social.
