Grandes empresas e bancos de capital aberto que já divulgaram seus resultados no segundo trimestre tiveram um dos períodos mais fortes de lucratividade dos últimos anos. Impulsionado pela retomada da economia após as restrições da pandemia, pela alta de preços das commodities e pelo câmbio favorável à exportação, o lucro de dez empresas entre as maiores da Bolsa brasileira dobrou em relação ao primeiro trimestre de 2021, passando de R$ 52 bilhões para R$ 110 bilhões. Em relação ao mesmo período de 2020, os ganhos se multiplicaram por dez.
O levantamento do <b>Estadão/Broadcast</b> incluiu dez negócios de diferentes setores que já divulgaram o balanço do período: Petrobras, Vale, Itaú, Bradesco, Weg, Ambev, Gol, Braskem, Telefônica e Usiminas. Na maior parte das empresas, os recursos vêm como um alívio, após duas grandes crises: a de 2017 e 2018, no governo Dilma, e a do confinamento no ano passado, quando a atividade econômica ficou restrita.
"Vários fatores externos contribuíram para o desempenho favorável das empresas, como a puxada forte de preços por escassez de alguns itens e a desvalorização do câmbio", diz Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). "Ainda estamos em processo de resgate de padrões de rentabilidade anteriores à crise."
Petrobras e Vale estão entre as que mais se destacaram no período. A petroleira (R$ 42,8 bilhões) e a mineradora (R$ 40,1 bilhões) tiveram lucros históricos de abril a junho. A Petrobras disse que, apesar do desempenho positivo, boa parte da geração de caixa ainda é destinada ao pré-pagamento da dívida.
As restrições de oferta por todo o mundo se somaram à demanda em alta e provocaram efeito disseminado nos preços de todo o setor básico. Braskem e Usiminas, que fabricam bens intermediários, também viram seus resultados dispararem.
"Os resultados das empresas de commodities vão trazer crescimento para o Brasil", afirma Luis Sales, estrategista-chefe da Guide. Segundo ele, esse efeito é um dos componentes por trás das previsões de avanço em torno de 5% do PIB em 2021.
<b>Reabertura</b>
Enquanto as empresas retomam investimentos, os bancos fortalecem o caixa. Afastada a ameaça de uma explosão de inadimplência, as instituições conseguiram diminuir provisões para calotes e retomar o ritmo dos crédito. "A partir de agora já vivenciamos a perspectiva de um cenário mais próximo ao do pré-pandemia", disse o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari, nesta semana.
Após apurar lucro de R$ 6,5 bilhões no segundo trimestre, o Itaú Unibanco elevou a perspectiva para o crédito neste ano e passou a prever crescimento de até 11,5%. Mais financiamentos significam impulso maior à economia, com dinheiro para consumo e investimento. O efeito, porém, esbarra na alta do custo. Com os riscos de a inflação permanecer em patamar elevado, o Banco Central acelerou o ritmo de alta na taxa básica de juros e as projeções indicam uma Selic próxima a 8% no fim do ano.
Em muitos casos, os preços têm sido repassados a consumidores ávidos pela autoindulgência. A Ambev, por exemplo, viu seus volumes crescerem acima do nível pré-pandemia na maior parte dos setores em que atua. A cervejeira lucrou cerca de R$ 3 bilhões no período, 123% a mais em um ano.
A recuperação do baque da pandemia, porém, ainda não chegou a todo mundo. "A gente percebe disparidade muito grande", afirma Carlos Antonio Rocca, coordenador do Centro de Estudos de Mercado de Capitais da Fipe (Cemec-Fipe). "O setor de papel e celulose está investindo pesadamente, a siderurgia se movimenta para ir na mesma linha e a indústria de construção está em plena decolagem, mas ainda tem uma parcela considerável em que as indicações não são nessa direção." Como exemplo, ele cita as indústrias de moda, confecção e calçados.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>