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Disputando ouro em Tóquio, Rebeca Andrade pegava carona na bicicleta do irmão para treinar no Gopouva

“Ela foi lá em 2005, levada pela tia dela que trabalhava no ginásio e me mostrou”. Assim começou a trajetória de Rebeca Andrade no esporte. Do outro lado do mundo, em Tóquio – e prestes a disputar a medalha de ouro – a jovem deu os primeiros passos no tablado do Bonifácio Cardoso, em Guarulhos.

A lembrança da professora Mônica dos Anjos fica mais forte quando o talento natural de Rebeca vem à tona, mesmo quando a atleta ainda não tinha a técnica necessária para a ginástica artística. “Peguei na mão dela e pedi pra pular. Falei que ali estava a futura Daiane dos Santos. Me lembro bem desse dia”, recorda.

Rebeca, ainda jovem, com as meninas de Guarulhos

“Naquele momento eu dava treino à tarde para a equipe principal de Guarulhos, na qual a gente já tinha algumas meninas na Seleção Brasileira. Além delas, eu tinha uma turminha de pequenas selecionadas na parte da manhã, mas a Rebeca estudava no mesmo período. Pedi pra ver se a mãe trocava o horário da escola e nessas duas primeiras semanas ela ficou com professora Isabel à tarde e depois voltou pra mim”, explica Mônica.

Rebeca treinou com Isabel, Mônica, Osmar e outros grandes profissionais em Guarulhos até o final de 2009, quando dois desses treinadores, Kelly e Chico, deixaram a cidade e levaram a pequena ginasta, aos 10 anos, para Curitiba.

Consagrada, Rebeca viaja o mundo competindo devido ao seu talento. O avião, contudo, nem sempre foi o transporte de locomoção no esporte. “Quando ela começou o irmão a levava pra treinar de bicicleta”, relembra Mônica, que também é árbitra e ainda tem contato com a pupila.

Professora Mônica, ao centro, com Rebeca

Moradia com professora

Embora treinadora da ginástica acrobática – e não artística – modalidade disputada por Rebeca, a professora Ana Cecilia Zarantonelli teve uma relação muito próxima com a atleta, ainda criança, em Guarulhos.

“Aos sete anos, ela tinha muita dificuldade de vir aos treinos por conta do dinheiro da condução. Foi nessa época que comecei ajudar a família com dinheiro para o gás e alimentação”, afirma Ana.

Professora Ana Cecília

Com outros seis filhos, a mãe Rosa confiou à professora uma grande responsabilidade na ocasião. “Ela veio morar comigo perto do ginásio. Ficava a semana por conta dos treinos e da escola. No final de semana eu levava para ficar com os pais”, complementa a profissional, que também ajudava a menina nas lições da escola.

Segundo Ana Cecília, Rebeca era “muito alegre e brincalhona”. O amor da professora ao esporte da profissional, aliás, mostra que Rebeca, embora muito talentosa, não foi a única privilegiada em Guarulhos. “Não fiz nada do que teria feito por outras meninas. Ela não é um caso isolado. Eu cheguei a morar com 13 atletas vindos de vários lugares do Brasil”, finaliza.

A guarulhense Rebeca disputa a final do individual nesta quinta-feira, 29/7, às 7h50 (de Brasília). A decisão do salto ocorrerá no próximo domingo, e a do solo no dia 2 de agosto.

Por Lucas Canosa

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