O dólar à vista encerrou a sessão desta quarta-feira, 3, em queda de 1,09%, cotado a R$ 4,9919, em dia marcado por uma onda de enfraquecimento da moeda americana no exterior tanto em relação a divisas fortes quanto emergentes. Em baixa desde a abertura dos negócios, o dólar renovou mínima ao longo da tarde, descendo até R$ 4,9834, à medida que investidores digeriam o comunicado da decisão de política monetária do Federal Reserve e as declarações do chairman Jerome Powell em entrevista coletiva.
Como esperado por ala majoritária dos investidores, o BC americano elevou sua taxa básica em 25 pontos-base, para a faixa entre 5,00% e 5,25%. No comunicado, embora tenha afirmado que permanece "atento aos riscos de inflação", o Fed diz que, em seus próximos passos, vai levar em conta os efeitos cumulativos e defasados da política monetária. Além disso, houve a supressão do trecho, presente no comunicado de março, no qual o Fed antecipava "algum aperto adicional".
"Não mais antecipamos altas de juros, mas seremos guiados por dados a vir, a cada reunião", disse Powell, ponderando que o colegiado está pronto para promover nova alta, caso necessário. O presidente do Fed, mais uma vez, tentou refrear apostas em relaxamento da política monetária ainda neste ano, ao dizer que, nas projeções do BC americano "de desaceleração gradual nos preços, cortar juros não é adequado".
Monitoramento da CME mostra que, após a decisão do Fed, as chances de manutenção da taxa básica em junho superam 80%. Investidores são quase unânimes na aposta de que os Fed Funds encerrem 2023 abaixo do nível atual. A probabilidade de os juros estarem em dezembro na faixa entre 4,25% e 4,50% subiram de 37% ontem para mais de 47% hoje à tarde.
Para o economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira, a despeito de o Fed ainda mostrar desconforto com o mercado de trabalho apertado e a inflação relativamente alta, o comitê deu sinais de que o ciclo de aperto monetário se encerrou nesta reunião. Oliveira chama a atenção para o trecho da entrevista coletiva em que Powell afirma que os salários não são os únicos responsáveis pela inflação alta. Isso sugere, na visão do economista, que não será preciso uma desaceleração acentuada do mercado de trabalho para o Fed parar de elevar os juros.
"Fica bem claro que o Fed considera que terminou o seu trabalho. O ciclo de alta de juros acabou", afirma Oliveira, ressaltando que Powell reconheceu que as condições financeiras já estão apertadas, fato que tem levado a problemas de liquidez no sistema bancário americano. "Provavelmente não vamos ter um período extremamente longo de juros no atual patamar".
Segundo o economista-chefe do Pine, a mudança na perspectiva para o rumo dos juros nos EUA é favorável a ativos de risco e, em particular, para a moeda brasileira. "Somos um mercado que oferece taxa de juros alta e com perspectiva de política fiscal razoável", afirma.
O relator da nova proposta de arcabouço fiscal na Câmara dos Deputados, Cláudio Cajado (PP-BA), disse hoje, após reunião com líderes da base do governo, que espera concluir seu relatório até o fim desta semana. Cajado afirmou seu texto deve manter ausência de punição por crime de responsabilidade em caso de não cumprimento de metas fiscais.