Em um pregão morno, o dólar à vista encerrou a sessão desta sexta-feira, 26, em baixa de 0,24%, cotado a R$ 4,9110, acompanhando o sinal predominante de baixa da moeda americana lá fora. Apesar da agenda carregada aqui e no exterior, a taxa de câmbio pouco se mexeu, com oscilação de menos de dois centavos entre a mínima (R$ 4,9025) e a máxima (R$ 4,9205), ambas pela manhã.
Leitura comportada de índice de inflação nos EUA em dezembro manteve inalterada a expectativa de que o Federal Reserve inicie um ciclo de corte dos juros ainda no primeiro semestre, com apostas majoritárias voltadas para maio. Por aqui, o avanço de 0,31% do IPCA-15 de janeiro – abaixo do piso expectativas de analistas ouvidos por Projeções Broadcast (0,38%) – reforça a expectativa de que o Comitê de Política Monetária (Copom) mantenha o ritmo de redução da taxa Selic em 0,50 ponto porcentual por reunião.
Após o avanço de 1,23% na última segunda-feira, 23, diante de temores de que a nova política indústria do governo Lula agravasse a situação das contas públicas, o dólar recuou nos quatro pregões seguintes no mercado doméstico de câmbio, para encerrar a semana em leve baixa (-0,32%). Lá fora, pares do real, como o peso mexicano e o colombiano, amargaram perda semanal frente ao dólar. Em janeiro, contudo, a moeda ainda acumula valorização de 1,19% ante o real.
Embora esclarecimentos do vice-presidente Geraldo Alckmin de que não haverá aportes do Tesouro ao BNDES para sustentar a nova política industrial tenham contribuído para arrefecer os ânimos, a queda do dólar nos últimos quatro pregões foi atribuída em grande parte ao quadro externo. Apesar de a primeira leitura do PIB americano no quatro trimestre ter vindo forte, o processo de desinflação nos EUA segue em curso, diminuindo os temores de que o Fed possa adiar o ciclo de cortes para o segundo semestre. Houve também anúncio de redução de depósito compulsório na China e alta das commodities, como minério de ferro e, sobretudo, do petróleo.
O Departamento do Comércio do EUA informou pela manhã que o índice de preços de gastos com consumo (PCE na sigla em inglês) – medida de inflação preferida pelo Fed – e seu núcleo subiram 0,2% em dezembro, em linha com as expectativas. Na comparação anual, o índice cheio avançou 2,6%, como esperado, ao passo que o núcleo subiu 2,9%, levemente abaixo das expectativas (3,0%).
O economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, observa que os índices de inflação, como o PCE divulgado hoje, têm mostrado convergência da inflação para a meta de 2%, mas chama a atenção para a resiliência dos preços de serviços. Além disso, os dados de atividade mostram que a economia americana segue forte, o que deixa o BC americano mais confortável em postergar um pouco o início da redução de juros. "Se a economia estivesse desacelerando, talvez o Fed antecipasse o corte para março baseado na inflação. Mas o primeiro corte ainda deve vir ainda no primeiro semestre, em maio ou junho", diz Lima.
Para o economista, o real ainda tem espaço para se apreciar, uma vez que segue "bastante depreciado em ternos reais" e conta com dois pontos favoráveis: termos de troca muito fortes e diferencial entre juros interno e externo ainda elevado, apesar do ciclo de queda da taxa Selic. A questão fiscal doméstica, diz Adauto, tem influenciado apenas esporadicamente e de forma muito pontual a formação da taxa de câmbio, uma vez que os investidores já embutiram nos preços a perspectiva de que haverá déficit primário neste ano, provavelmente em uma faixa entre 0,5% e 1% do PIB.