Estadão

Dólar sobe no dia e acumula alta de 2,34% na semana com quadro político

Depois de uma manhã volátil, em que chegou a ser negociado abaixo do piso de R$ 5,00, com investidores digerindo dados do mercado de trabalho nos Estados Unidos e o noticiário político doméstico, o dólar andou de lado ao longo da tarde e, a despeito da queda generalizada da moeda norte-americana frente a divisas emergentes e de recuo do índice DXY, manteve-se sempre acima R$ 5,00. Com mínima de R$ 4,9881 e máxima de R$ 5,0738, o dólar encerrou os negócios em leve alta (de 0,16%), a R$ 5,0533.

Na semana, o dólar à vista acumulou valorização de 2,34%, atribuída por especialistas à cautela nas mesas de operação por conta do risco político e das dúvidas sobre o impacto da reforma tributária nos fluxo de recursos, o que inibe as apostas a favor do real e aumenta a demanda dos agentes por proteção (hedge).

Dados mistos do relatório de emprego (Payroll) nos Estados Unidos provocaram leituras distintas e fizeram o dólar chacoalhar nas primeiras horas do dia. A economia norte-americana criou 850 mil empregos em junho, acima da mediana de Projeções Broadcast (800 mil). Em contrapartida, a taxa de desemprego subiu de 5,8% para 5,9%, quando o esperado era de queda para 5,7%. Além disso, o salário médio por hora cresceu menos que o esperado.

No fim das contas, prevaleceu a leitura de que o relatório corrobora a visão de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) tem argumentos para postergar o início à redução do ritmo de compra de ativos ( tapering ), o que reforça o ambiente de liquidez abundante e tira um pouco do fôlego global do dólar no curto prazo.

O real até ameaçou seguir a toada de apreciação de outras moedas emergentes, mas tocou na máxima (R$ 5,0738) pela manhã com a percepção de agravamento do quadro político, após a notícia de que o vice-procurador da República, Humberto Jacques de Medeiros, pediu ao STF abertura de inquérito contra o presidente Jari Bolsonaro por suposta prevaricação no caso das negociações para aquisição da vacina indiana Covaxin.

O economista e gestor da JF Trust, Eduardo Velho, ressalta que o Fed tem como uma das suas metas o pleno emprego e o mercado de trabalho americano, apesar da recuperação acentuada nos últimos meses, ainda não chegou aos níveis pré-pandemia. "O dado do mercado de trabalho, pela ótica da taxa de desemprego, tira um pouco da força do dólar", afirma Velho, para quem o Fed pode anunciar em agosto quando começará a reduzir os estímulos.

Segundo Velho, o quadro das contas externas e a perspectiva de elevação contínua da taxa Selic deveriam levar o dólar para a casa de R$ 4,80, mas o real é prejudicado pela turbulência em Brasília, com a perda de capital político do presidente Jair Bolsonaro.

"Se o contexto político se agravar, o dólar continuará pressionado. Vai haver uma demanda maior por proteção, até porque o real vem de um movimento muito forte de apreciação", afirma o economista da JF Trust, ressaltando que o mercado parece "assimétrico", com espaço para ganhos limitados com a apreciação da moeda brasileira e percepção de risco elevada.

O operador Hideaki Iha, da Fair Corretora, vê o atual movimento de alta do dólar como uma correção natural após a forte queda da moeda americana nos últimos três meses. "Agora deve permanecer a cautela. Meu cenário é de dólar para cima. Houve um fluxo muito grande de dólares, com IPOs ofertas iniciais de ações, exportadores e captações no primeiro semestre, que não tende a se repetir no segundo", afirma Iha, lembrando que, além do ambiente político conturbado, existem dúvidas sobre o andamento da reforma tributária e os impactos da crise hídrica.

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