Estadão

Dólar sobe para casa de R$ 4,71 com tom duro da ata do Federal Reserve

O dólar emendou na sessão desta quarta-feira, 6, seu segundo pregão consecutivo de alta e voltou a se situar acima de R$ 4,70, alinhado à tendência de fortalecimento da moeda americana no exterior, em dia marcado pela divulgação da ata do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano). Afora uma queda pontual na abertura, o dólar trabalhou em alta ao longo de todo o pregão, tendo superado o teto de R$ 4,70 e tocado a linha de R$ 4,71 ainda pela manhã, em meio a perdas de ativos de risco. Além da expectativa pela ata do Fed, o mercado digeria dados fracos da economia chinesa e nova rodada de sanções à Rússia.

A divulgação do documento do Fed, às 15 horas, provocou uma volatilidade momentânea. Em um primeiro momento, o dólar perdeu força e tocou pontualmente o nível de R$ 4,67. Mas tomou fôlego logo em seguida e correu até a linha de R$ 4,72, registrando máxima a R$ 4,7225 (+1,36%). Com uma acomodação na reta final, acabou encerrando o dia cotado a R$ 4,7147, em alta de 1,19%. Apesar de ter avançado na terça e nesta quarta, a moeda ainda acumula perda de 0,98% em abril e de 15,45% no ano.

Como esperado e já em boa parte antecipado pelo mercado, o Fed adotou uma postura mais dura. Revelou-se que muitos dirigentes do BC americano que votaram por 0,25 ponto em março julgavam uma elevação de 0,50 ponto apropriada. Preferiram, contudo, dar um passo inicial menor, em razão das incertezas provocadas pela guerra na Ucrânia. Os dirigentes "julgaram que seria apropriado mudar rapidamente" a política monetária para "uma postura mais neutra" e, a depender da evolução econômica, para uma política "mais restritiva". Isso significa levar os Fed Funds, hoje na faixa de 0,25% a 0,50%, para além de 2,5% ao ano, considerado o nível neutro. Monitoramento do CME Group mostra um aumento das apostas de que os juros subiram neste ano para a faixa entre 2,75% e 3,00%.

O Fed também falou de forma mais explícita sobre a redução de seu balanço patrimonial, que significa, na prática, retirar dinheiro do sistema. Esse processo começaria em maio. Dirigentes do BC americano "concordaram que limites mensais de cerca de US$ 60 bilhões para títulos do Tesouro e cerca de US$ 35 bilhões para MBS seriam apropriados", diz o documento.

O economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, observa que, dadas as últimas declarações de dirigentes do Fed, o mercado já havia incorporado nos preços dos ativos a perspectiva de uma ata mais dura. O documento do BC americano, diz Velho, reforça a probabilidade de altas seguidas dos Fed Funds em 0,50 ponto porcentual. "O Fed deve antecipar a elevação dos juros para nível acima do neutro, que é de 2,5%, para antes do fim do ano", diz Velho, ressaltando que a alta de commodities e o choque de oferta em meio à guerra na Ucrânia pressionam ainda mais a inflação. "Ainda mais impactante do que a alta mais rápida dos juros, é a redução do balanço patrimonial, que tira liquidez do sistema".

Lá fora, o índice DXY – termômetro do desempenho do dólar frente a uma cesta – ampliou a alta após a divulgação da ata e tocou máxima aos 99,769 pontos. Quando o mercado local fechou, era cotado na casa de 99,600, ainda no maior nível desde maio de 2022. A taxa da T-note de 10 anos subiu para casa de 2,60%. Já o yield do papel de 2 anos, mais influenciado pela expectativa em torno do ritmo de alta de juros, caiu para o nível de 2,48%. As divisas emergentes, que vinham pressionadas desde a manhã, aprofundaram a queda, com o peso chileno e o real e o peso mexicano liderando as perdas do dia.

"A ata do Fed reforçou a preocupação do mercado com os efeitos inflacionários da guerra na Ucrânia. Os membros mencionaram redução do balanço patrimonial, o que, ao lado do aumento dos Fed Funds, gera mais pressão nas moedas de países emergentes. O real se destaca por ser mais volátil", afirma a economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte. "A ata soou hawk. O Fed deu números para redução do balanço patrimonial. Além disso, foi bem negativo em relação às consequências da guerra na Ucrânia sobre a inflação e a economia", diz o sócio e estrategista-chefe da Inv., Rodrigo Natali.

Para Velho, da JF Trust, a perspectiva de ajuste mais rápido da política monetária americana pode limitar pontualmente o fôlego do real, que vem de um processo forte de apreciação. O efeito da alta dos juros nos EUA seria contrabalançado no curto prazo, contudo, pela possibilidade de que o Copom leve a taxa Selic para mais de 13%, dada a pressão inflacionária provocada pela alta das commodities. "O Banco Central vai ter que se render e admitir que não poderá encerrar o aperto com a Selic em 12,25%", diz o economista. "Com o <i>carry trade</i> atrativo e a alta das commodities, o real pode se apreciar um pouco mais no curtíssimo prazo", diz.

Pela manhã, a Fundação Getulio Vargas (FGV) divulgou que o Índice Geral de Preços – Dispinibilidade Interna (IGP-DI) acelerou de 1,50% em fevereiro para 2,37% em março, superando a mediana das expectativas de Projeções Broadcast (2,10%). Na quinta, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março, que, segundo a mediana de Projeções Broadcast, deve ser de 1,35%, uma aceleração frente ao resultado de fevereiro (1,01%).

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