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Editores, autores e leitores lamentam o fim da Cosac Naify

Pouco depois de Estevão Azevedo receber o prêmio São Paulo de Literatura por seu romance Tempo de Espalhar Pedras, na noite da última segunda-feira, 30, o jovem escritor foi notificado por amigos sobre o fechamento de sua editora, a Cosac Naify, que há 19 anos mudou o panorama editorial brasileiro ao estabelecer um padrão de alta qualidade para a publicação de livros – não só de arte – no país. “Estava no jantar em homenagem aos premiados quando amigos me disseram ter lido no Facebook a entrevista que o editor Charles Cosac deu ao jornal O Estado de S.Paulo, comunicando o encerramento das atividades da editora”.

Como Estevão Azevedo, outros autores, entre eles Alcides Vilaça, que tem dois livros publicados pela Cosac Naify, foram surpreendidos com a decisão do fundador da editora. Azevedo, formado em Letras, tinha uma relação recente com a editora, para a qual foi levado por Heloísa Jahn, responsável junto à editora Marta Garcia pela publicação de autores brasileiros. “Quando recebi a notícia, achei que tinha entendido mal, que estavam falando da crise econômica, mas, infelizmente, ao ganhar um prêmio, perdi simultaneamente minha editora”, diz o autor.

Estevão é um entre muitos autores jovens que tinham esperança no projeto editorial da Cosac Naify, que começou publicando livros de arte, em 1997, sendo o primeiro Barroco de Lírios, de Tunga, e enveredou por outras áreas com o passar dos anos. “Foi um projeto bonito, a editora apostava no material de qualidade, e seu encerramento é melancólico”, diz o escritor, que prepara uma tese sobre Raduan Nassar, que pretendia ver publicada pela Cosac Naify.

O editor Jacó Guinsburg, da Perspectiva, definiu como um “golpe pesado” a notícia do fechamento da editora, assim como sua mulher, Guita Guinsburg. “Charles fez um trabalho magnífico, um investimento alto em livros de qualidade, mas, infelizmente, não temos público adequado para isso”. A Perspectiva, que tem 50 anos de existência, atua também nesse segmento de ensaios sobre arte, mas com publicações mais modestas. “Não dispunha de meios e me limitei num campo que era de nosso interesse pessoal e intelectual”.

O editor Luiz Schwarcz, fundador da Companhia das Letras, lamentou igualmente o fim da Cosac Naify. “Fiquei muito triste, pois não esperava que isso acontecesse, apesar da crise econômica, embora tenha sido, segundo a matéria do jornal O Estado de S.Paulo, uma decisão pessoal”, disse. Schwarcz destacou o modelo de projeto independente adotado pelo editor Charles Cosac, de bancar a editora com recursos próprios, elogiando a linha de autores “importantes” criada pela editora.

Atuando no mesmo segmento original da Cosac Naify, o de livros de arte, o editor Pedro Corrêa do Lago, que dirige há 13 anos a editora Capivara, classificou como “quixotesca” a decisão de Cosac manter com o dinheiro da família um projeto “admirável” que deixa como legado 1.600 títulos excepcionais. “Isso ninguém tira dele, o fato de ter formado duas gerações de leitores com edições que nunca teriam sido feitas se não fosse por esse esforço pessoal”.

O diretor do Instituto Tomie Ohtake, o designer gráfico e editor Ricardo Ohtake, destacou a contribuição que Cosac deu ao mundo editorial. “Sua editora tornou possível aos leitores brasileiros conhecer o que de melhor se produz na arte contemporânea brasileira e internacional, alimentando o debate no circuito acadêmico sobre obras de importância fundamental”.

A Câmara Brasileira do Livro (CBL) também se manifestou sobre o encerramento. “Lamentamos o anúncio feito pela Editora Cosac Naify de que encerrará suas atividades. Trata-se de uma empresa que, em seus quase vinte anos, inovou e agregou valor ao mercado editorial brasileiro. A entidade espera que seus diretores e profissionais continuem integrados ao mundo do livro, em novos empreendimentos e trabalhos”.

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