A presidente afastada, Dilma Rousseff, usou novamente as redes sociais para criticar o governo do presidente em exercício, Michel Temer, o acusou de ter “obsessão” por cortes em políticas sociais e disse não entender a demora para a concessão do reajuste do Bolsa Família. “A primeira coisa que faremos ao voltar é pagar o reajuste do Bolsa Família. É claro que este governo provisório, ilegítimo e interino está comprometendo as políticas sociais do meu governo. Lutamos hoje e tomaremos todas as providências para reparar as danosas consequências de um governo provisório que tem obsessão por cortar as políticas sociais”, disse, em um bate papo com internautas ao lado da ex-ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello.
Dilma defendeu o programa Bolsa Família e afirmou “só um grande preconceito” com o programa pode explicar por que o aumento de 9% no benefício médio, que ela anunciou no Dia do Trabalho, não foi até hoje concedido. “Desde sexta, está sendo pago o benefício do Bolsa Família com zero de reajuste. É uma fantástica injustiça”, disse a petista.
Ela citou o acordo feito pelo governo Temer com os Estados e também a ampliação do déficit fiscal como contradições para não conceder o aumento do Bolsa Família. “Não dá pra entender este governo golpista. Havia previsão de recursos para o aumento. Eles ampliaram o déficit fiscal. Eles concederam aumento para várias categorias do funcionalismo, fizeram uma anistia para os Estados, que segundo eles mesmos custará R$ 20 bilhões. Eles aumentaram vários outros gastos. Só não acharam dinheiro para dar o reajuste do Bolsa Família, cujo valor não passa de R$ 1,2 bilhão”, disse.
Procurado, o Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário (MDSA) afirmou que “está trabalhando para colocar em dia o rombo deixado pelo governo anterior”. “Há R$ 1,6 bilhão que não foram investidos na área social em 2015. Mesquinharia foi ter ficado dois anos sem dar reajuste ao Bolsa Família e ter deixado 11 milhões de pessoas desempregadas”, afirmou o ministro Osmar Terra à reportagem. “Esse governo vai cumprir o que ela anunciou, mas não viabilizou”, completou.
A presidente afastada disse que tomou providências para que o benefício fosse reajustado em junho. “Colocamos no Orçamento de 2015 a previsão para o reajuste de 9% no benefício médio, garantimos recursos financeiros com o aumento do IOF, enfim nada impedia que em junho os beneficiários estivessem recebendo o reajuste. Faltou a vontade política do governo interino de pagá-lo. Essa não é a prioridade do governo interino e provisório”, disse.
Segundo Dilma, além das famílias que recebem o benefício, o aumento do Bolsa Família é também importante para a economia. “Quando a família gasta com alimentos, roupas, calçados, remédios, isso impacta a economia local e o comerciante, o feirante, o dono do armazém, etc., também se beneficiam. Cada R$ 1,00 gasto pelo beneficiário do Bolsa Família gera R$ 1,78 para o conjunto da economia”, afirmou.
Dilma rebateu ainda a ideia de que o Bolsa Família torna o beneficiário dependente do programa. “O Bolsa Família é só um complemento, uma retirada de algumas famílias da pobreza extrema”, disse.
A presidente afastada também criticou a PEC que limita os gastos do governo, que foi proposta por Temer. “Ao definir que os gastos do Estado somente poderão ser corrigidos pela inflação, ela os congela no atual patamar. Significa que todo o esforço que vínhamos fazendo para ampliar os investimentos em educação, saúde e proteção social será interrompido”, disse. A PEC que cria um teto para os gastos públicos é a principal aposta da equipe de Henrique Meirelles para ajustar as contas públicas. “A deterioração dos serviços públicos e a diminuição da capacidade de o Estado garantir direitos são consequência inevitável dessa PEC”, disse Dilma.
Aliados
Ainda nesta terça-feira, 21, Dilma tem um encontro com os presidentes do PT, Rui Falcão, do PCdoB, deputada Luciana Santos (PE), e do PDT, Carlos Lupi, no Palácio da Alvorada. Os presidentes das siglas aliadas devem reafirmar o seu apoio à presidente afastada e tentar traçar uma estratégia para conquistar os votos que ainda faltam no Senado para que Dilma evite o afastamento definitivo. Desde o início do processo de impeachment, os representantes das siglas aliadas têm prestado solidariedade a Dilma e feito sua defesa no Congresso.