Estadão

Em sua estreia, Instituto Brasileiro de Teatro investe em dramaturga inglesa

Dramaturga inglesa que segue em produção aos 84 anos, Caryl Churchill se tornou figura tarimbada no teatro brasileiro na última década. Uma série de leituras e montagens bem-sucedidas fizeram da octogenária uma das autoras favoritas dos criadores do teatro paulistano.

Não à toa, sua obra fascinou um grupo de jovens artistas que, ao ler um apanhado de peças curtas escritas e encenadas em 2019, em Londres, decidiu dar continuidade aos estudos acerca da criadora.

Com a pandemia, o projeto esfriou, mas levantou uma sequência de questionamentos sobre a arte, a produção cultural no Brasil e, o mais importante, o público e as formas de se comunicar com uma plateia que precisaria se reeducar para voltar ao teatro.

"Queremos convencer a população a frequentar e consumir teatro, e, para isso, precisamos levar quem nunca foi ao teatro para experienciá-lo", afirma Guto Portugal, que, unido a Elisa Volpatto, Oliver Tibeau, Samya Pascotto e José Aragão, formam o Instituto Brasileiro de Teatro (IBT), um conjunto de artistas que visa estreitar os laços do mercado cultural com empresários da iniciativa privada.

"Somos um grupo de artistas e um empresário, e nessas conversas foi ficando cada vez mais claro como empresas e artistas não falam a mesma língua, mas há um grande ponto em comum: o público. Então, o instituto nasceu para ser esse tradutor, uma organização que cria a governança necessária na abordagem das empresas e doadores privados em geral, e que valoriza e sabe se relacionar com a comunidade artística", conceitua.

A ideia do projeto é produzir espetáculos que possam chegar à sociedade de maneira acessível, tanto no que diz respeito ao valor do ingresso quanto no acesso geográfico, como explica Elisa Volpatto. "Temos projetos que levam o teatro para onde as pessoas estão, para a rua, e também temos projetos de sala, porque queremos que elas se sintam convidadas e bem-vindas a frequentar esse espaço, o teatro tem de ser um espaço de todos."

Samya Pascotto endossa: "A democratização através do valor acessível é apenas uma parte da estratégia. Envolver outros agentes da sociedade civil é de extrema importância, veículos de mídia, artistas, influenciadores digitais, poder público…".

Como primeiro passo da ação de democratização do acesso cultural, o grupo estreou Diabinho e Outras Peças Curtas de Caryl Churchill, espetáculo em que encenam textos inéditos da dramaturga que chegaram aos palcos de Londres um ano antes da pandemia.

<b>QUESTÕES LATENTES.</b> "Resolvemos montar a peça por tratar de questões latentes na nossa sociedade, como a banalidade do mal e a violência", explica Portugal, que assina a direção da montagem. A obra enfileira quatro textos diferentes: Vidro, Matar, Barba Azul e Diabinho, com elenco formado pelos atores convidados Johnnas Oliva, Rafael Pimenta, Mayara Constantino, Norival Rizzo e Noemi Marinho, além de Elisa Volpatto.

"Não estamos reinventando a roda, mas queremos dar nossa contribuição sendo mais uma ferramenta para trazer dignidade ao trabalho dos artistas e proporcionar teatro para o povo brasileiro", afirma Volpatto.

Em cartaz até o dia 5 de junho no Auditório do Masp, em São Paulo, o projeto dá início a uma série de outras produções, entre elas a remontagem de O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, de Jorge Amado, em parceria com a Cia. Novelo sob a direção de Maristela Chelala, e um musical autoral para 2023.

"Nosso sonho é ser um instituto plural, trazendo grandes nomes da dramaturgia brasileira e internacional, assim como fomentando novas dramaturgas e dramaturgos", explica Oliver Tibeau. José Aragão finaliza: "Essa trajetória é longa, exige uma estabilidade e frequência de ações, mas a cada pessoa que tocamos com o bichinho do teatro chegamos mais perto de nosso sonho".

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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