Uma das companhias mais tradicionais do setor sucroalcooleiro, o Grupo Virgolino de Oliveira (GVO) vai anunciar nos próximos dias que não terá condições de arcar com os bonds (títulos de dívida) de US$ 600 milhões, afirmaram fontes ao Estado. A família Ruette Oliveira, que por anos presidiu a Copersucar, contratou o banco americano Moelis para renegociar essas dívidas.
Altamente endividado, em cerca de R$ 1,8 bilhão, o grupo também está atrasando pagamento de fornecedores de cana-de-açúcar, afirmaram as mesmas fontes. A receita líquida de vendas na safra passada, a 2013/14, encerrou em R$ 1,4 bilhão. Procurado, o grupo não comentou o assunto.
No fim do primeiro trimestre deste ano, a companhia tinha anunciado ao mercado que teria condições de honrar esses compromissos. Dos US$ 600 milhões, metade desse valor tem vencimento em 2018 e a outra metade em 2022. No entanto, a má fase pela qual o setor passa, com a queda dos preços do açúcar no mercado internacional e baixas cotações do etanol, a companhia já não tem nem condições de bancar suas dívidas de curto prazo, informaram fontes. Os bônus de dívida do grupo já estão operando em um patamar bem abaixo do valor de face há vários dias, o que significa que embutem a perspectiva de a empresa não honrar seus compromissos.
“Os maiores credores do GVO são bancos, como Itaú, Bradesco e Santander, que também são credores de outras usinas que estão na mesma situação. A expectativa é de que o grupo negocie transformar essas dívidas em equities (ações) ou bônus de subscrição (ações dentro de um prazo pré-estabelecido)”, disse uma fonte familiarizada com o assunto.
Com quatro usinas no Estado de São Paulo, com capacidade de moagem total de 12 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por safra e de produção máxima de 1,1 milhão de toneladas de açúcar e 1,465 bilhão de litros de etanol, o grupo está entre os dez maiores do País.
Uma das fortes lideranças do passado, o Grupo Virgolino de Oliveira, que é um dos maiores acionistas da Copersucar, com cerca de 10%, hoje está relegado a segundo plano.
Expansão
Assim como boa parte dos grupos sucroalcooleiros, o GVO apostou na expansão do segmento, com investimentos em novas unidades produtoras antes da crise de 2008, quando o setor viveu um forte boom, impulsionado, sobretudo, pelo crescimento das vendas de carros flexfuel (abastecido com etanol e gasolina).
Outros grupos tradicionais, como o NovAmérica, tiveram de ser vendidos, e muitos estrangeiros que entraram no País com a aposta de que a demanda pelo etanol ia decolar dentro e fora do País, também se endividaram, como são os casos da Bunge, Biosev (do grupo Louis Dreyfus), Shree Renuka e Odebrecht Agroindustrial (ex-ETH). “Neste ano, havia uma expectativa de que usinas conseguiriam reduzir suas dívidas, o que não se concretizou. Muitas estão alavancadas e as estimativas mais otimistas são de que mais grupos entrem com pedido de recuperação judicial nos próximos meses”, disse uma fonte de uma importante companhia do setor.
A crise do setor começou a se agravar a partir de 2009 e a expectativa dos empresários era de que o governo brasileiro continuasse dando estímulos às usinas. Com preços do etanol atrelados à gasolina, as usinas têm se reunido em Brasília para pedir políticas mais claras ao setor, como o aumento do preço do combustível e da mistura de etanol à gasolina.
Safra
Até a semana passada, dez usinas do Estado de São Paulo, maior produtor de cana-de-açúcar do País, tinham encerrada a moagem. A antecipação do fim da colheita reflete a seca na região Centro-Sul do País. No Centro-Sul, a seca deve reduzir em 9% o volume de cana processada, de 597 milhões de toneladas em 2013/14 para 546 milhões de toneladas agora, de acordo com a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.