Pouca coisa mudou nesta sexta-feira, 5, primeiro dia em que o acesso aos prédios de escritórios da cidade de São Paulo foi liberado ao público pela Prefeitura. A volta à normalidade ainda está distante e há restrições quanto ao horário de funcionamento e o número de funcionários, hoje limitado a 20% da capacidade de ocupação dos escritórios. Segundo companhias especializadas em administrar edifícios de grandes lajes corporativas ouvidas pelo Estadão, o plano das empresas é fazer retomada gradual das equipes ao recinto de trabalho.
A gestão João Doria (PSDB) criou um plano gradual de retomada de atividades econômicas, com cinco fases. Na atual etapa, a cidade de São Paulo está na 2ª etapa, que permite reabrir escritórios, concessionárias, imobiliárias, lojas de rua e shoppings. Só os dois primeiros setores, porém, já assinaram protocolos sanitários com a Prefeitura para a retomada. Entre as exigências estão a abertura por no máximo quatro horas por dia, horários de entrada e saída que não coincidam com os horários de pico de trânsito e transporte público, medidas de higienização dos ambientes, uso de máscaras e álcool em gel, distância mínima de 1,5 metro entre as pessoas, uso de páginas na internet e e-mail para informar as condições a trabalhadores e clientes, entre outros. As empresas terão também de fazer testes em funcionários com sintomas da covid-19.
"Não houve mudança de ontem (quinta-feira) para hoje (sexta-feira)", diz Alessandro do Carmo, diretor de Operações da CBRE, empresa que administra um milhão de metros quadrados prédios comerciais de escritórios na cidade. Ele imaginava que fosse ter corrida maior para a retomada, mas isso não aconteceu.
Mariana Hanania, chefe de Pesquisa e Inteligência de Mercado da Newmark Knight Frank, que administra 135 mil metros quadrados de escritórios na Grande São Paulo, também não notou mudanças na ocupação dos escritórios, que está baixa. "Não vemos pressão para retomada."
O executivo da CBRE aponta dois motivos para a retomada gradual. O primeiro é que as multinacionais, pela experiência que tiveram em outros países, querem ter certeza de que há segurança nessa retomada. "Não basta o governo dar sinal para elas voltarem a operar." O segundo motivo é a falta de clareza em alguns pontos do decreto do governo, como, por exemplo, o horário reduzido de funcionamento.
Apesar da perspectiva de retomada mais lenta do que o esperado, Carmo frisa que isso não significa que as companhias não estejam se preparando para voltar às atividades. Fábio Martins, diretor de Gerenciamento de Propriedades da JLL que administra um milhão de metros quadrados de escritórios espalhados por 50 empreendimentos na capital paulista, diz que muitas empresas que não tinham comitê de crise criaram um e estão ajustando o layout dos escritórios, com maior distanciamento entre as estações de trabalho. "Todos os nossos prédios estão demarcados nas áreas comuns e as áreas privativas estão acabando de se ajustar."
Até a semana passada a ocupação das áreas privativas de serviços essenciais nos prédios de escritórios administrados pela JLL era, em média, de 10%. Nesta semana, essa ocupação subiu para 12% a13%. "Já sentimos aumento esta semana." Ele conta que, segundo pesquisa feita pela administradora com as empresas que ocupam suas lajes, a intenção das companhias é de fazer um retorno em "ondas". A JLL pesquisa a expectativa dos locatários para planejar a oferta de serviços comuns dos edifícios, limpeza, segurança, por exemplo. "A grande virada deve ocorrer na próxima segunda-feira, quando a ocupação deve ir a 20%, na média." A perspectiva, segundo executivo, é que em dois meses e meio os escritórios tenham voltado ao normal.
<b>Plano envolve escalonamento de funcionários
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Carmo diz que tem conversado com os locatários dos condomínios que administra diariamente para poder planejar o retorno dos funcionários aos escritórios de forma escalonada. "Não dá para chegar mil pessoas ao mesmo tempo num prédio às 10h da manhã", exemplifica. Esse escalonamento prevê vários horários de entrada dos funcionários ao longo do dia para evitar risco de contaminação.
Neste ponto, Martins conta que, no plano de retomada, as companhias pretendem fazer rodízio de grupo de funcionários em home office e trabalhando presencialmente nos escritórios. Desta forma, se houver algum caso de covid-19 num grupo fica mais fácil bloquear os demais colegas e diminuir o risco de disseminação da doença.
<b>Prefeitura promete fiscalização
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A Prefeitura de São Paulo, em nota, informa que "a fiscalização vai passar a verificar se os estabelecimentos estão cumprindo as regras, dando prosseguimento ao trabalho que já vinha sendo realizado em todas as regiões" da cidade. A Secretaria Municipal das Subprefeituras, desde o início das ações, já interditou 581 estabelecimentos não essenciais por não acatarem a decisão de fechamento prevista em decreto de 23 de março.