Há algumas décadas, a tecnologia de computadores e consoles não era tão acessível e é comum ouvir das gerações mais velhas como “antigamente crianças e adolescentes passavam mais tempo na rua brincando”. Com o passar dos anos e consequentemente maior facilidade de acesso a equipamentos eletrônicos, foi se tornando comum ouvir de adultos a reclamação de que as novas gerações passavam muito tempo dentro de casa em frente ao computador, já não mais aproveitando praças, parques e outros ambientes urbanos.
No momento atual, com a popularização da realidade aumentada, a tecnologia parece não mais segregar e sim se unir ao mundo real ocasionando fenômenos sociais, tais como grandes flashmobs para capturar monstrinhos no jogo Pokemon Go.
Conversando com jogadores e jogadoras, é possível notar que as pessoas estão explorando seu entorno e até mesmo descobrindo pontos de interesses em seus próprios bairros, locais que elas nunca antes haviam explorado. Observar essa interação do cidadão com o meio traz à luz uma série de questionamentos sobre a falta de incentivo para que as pessoas interajam com o que existe do lado de fora do muro de suas casas e locais de trabalho, o que claramente é uma falha no sistema do turismo, da cultura e do urbanismo – este último responsável por criar espaços que atraiam os cidadãos e que possibilitem interações sociais de forma segura e agradável.
Ao sair para caçar Pokemon em Guarulhos o déficit de espaços públicos de qualidade se torna muito evidente. É fácil identificar, por exemplo, que ao traçarmos uma linha do Parque Cecap até a Vila Rosália, os espaços pontuais de agrupamento de pessoas acabam sendo sempre a Praça dos Mamonas, o Parque J.B Maciel, o Bosque Maia e o Lagos dos Patos. Esses locais funcionam como hubs para moradores de muitos bairros que não contam com nenhuma infraestrutura do mesmo tipo, mesmo que em menor escala – e ainda assim, existe a grande chance de que você, que lê este artigo, morador da cidade e até dessa região, não conheça ou nunca tenha visitado pelo menos um desses quatro lugares citados acima.
Seja por meio da tecnologia ou de qualquer outra forma, impulsionar as pessoas a conhecerem sua própria cidade é um passo importante no longo caminho de edificar uma cidade mais humana, mais segura e mais interativa. Faz-se necessário pensar em soluções que tratem desses problemas. Talvez essa febre fosse o empurrãozinho que precisávamos para sermos mais ativos, observadores e principalmente mais participativos nesse ambiente que é NOSSO.
Arquiteta, associada da AAPAH e Urbanista.