A cidade de Guarulhos hoje é uma das maiores potências econômicas do Brasil, abrigando diversas empresas, indústrias e um dos maiores aeroportos da América Latina. Para alcançar toda essa magnitude, Guarulhos utilizou-se do trabalho humano e da exploração dos recursos naturais presentes no seu território. Os rios são alguns dos constituintes da natureza, que no passado tiveram enorme importância e presença nas realizações de atividades que moveram a economia Guarulhense, e hoje, são esquecidos, degradados e desfigurados, tornando-se objetos distantes na realidade da cidade.
A presença dos rios na história Guarulhenses é antiga: em períodos geológicos distantes alguns milhões de anos, os rios foram os responsáveis pelo transporte de sedimentos desgastados das partes mais altas ao norte, para as mais baixas ao sul, formando praticamente toda porção meridional da cidade. Tempos a frente, no século XVI, quando o homem europeu começa a explorar a colônia, é o rio Maquirobu (Baquirivu) que delimita os primeiros traços de uma nova região conquistada. Iniciada as atividades econômicas, os ribeirões das Lavras, Tanque Grande e o rio Baquirivu-Guaçu são utilizados na exploração do ouro, que alimentou umas das primeiras atividades auríferas do Brasil; no século XVIII, quando as vilas paulistas iniciam seu crescimento, torna-se necessário a garantia de materiais para as edificações, sendo assim, Guarulhos inicia a produção de tijolos, que têm como matéria-prima as argilas e areias retiradas dos rios Tietê, Cabuçu-de-Cima e Baquirivu-Guaçu. No bojo da industrialização da cidade, em meados da década de 1940, as águas de diversos rios da cidade passam a suprir as demandas dos novos processos industriais. Na década de 1980, com instalação do Aeroporto Internacional, os Aquíferos formados em associação com rios, passam a abastecer as necessidades de empresas, do aeroporto e de parte da população.
Legenda: Rio Baquirivu-Guaçu na época de construção do Aeroporto Internacional de Guarulhos. Ano: 1979. Acervo: Infraero.
Hoje toda essa presença histórica dos rios é devolvida em forma de degradação pela cidade. A mesma Guarulhos, que antes, formou-se e cresceu utilizando os rios hoje, se esquece de sua valia, os desfigura e os tratam com estranheza no seu dia-a-dia; os rios, embora estejam presentes fisicamente na cidade, já não fazem parte do seu cotidiano, se tornaram um problema, uma ameaça aos cidadãos, aos poderes públicos e privados; são para muitos, simples canais de escoamento de esgotos, com mau cheiro, má aparência e que não passam de um problema urbanístico.
Guarulhos, então, necessita [re]pensar a relação que possui com seus recursos hídricos. São necessárias ações que insiram os rios novamente no cotidiano urbano, seja nas vivências ou nas políticas públicas. Recuperar e preservar os rios torna-se não só uma questão puramente ambiental, mas de aumento da qualidade de vida, de acesso ao lazer, de preservação da história e dos patrimônios ambientais guarulhenses e de mudança da realidade da própria cidade.
*Pesquisador de recursos hídricos do município de Guarulhos. Estudante de Geografia e Meio Ambiente. Especial para o Espaço AAPAH.