O brilho do ouro, da prata e do bronze, que por muitos anos iluminou o esporte de Guarulhos, já não reluz mais com a mesma intensidade nos dias de hoje. Apesar das inúmeras adversidades encontradas para manter esta chama acesa na cidade, medalhistas de diversas modalidades lutam pela sobrevivência do esporte guarulhense, que por muitos é usado como bandeira política e de inclusão social.
A decadência atual da prática esportiva em Guarulhos se limita apenas aos atendimentos realizados nas academias populares e outras atividades. Não há mais nada da prática em alto nível para participações em competições oficiais. Aliás, em Guarulhos apenas modalidades coletivas, que pouco ou quase nada possuem o apoio da Secretaria Municipal de Esportes e tampouco do empresariado local, conseguem competir em campeonatos de alto rendimento, diferente de outros municípios.
No entanto, a demagogia não para por aí. Durante o processo eleitoral inúmeros candidatos usam o esporte como plataforma de campanha e o inclui como agente transformador social, porém, na prática o discurso não é o retrato mais fiel da realidade. Diante deste cenário atenuante, agonizante e crítico, medalhistas olímpicos, pan-americanos e mundiais buscam forças de seu interior e movidos pela paixão ao esporte, em especial, o de Guarulhos, lutam para manter suas raízes em pé e sólida.
Primeiro secretário de Esportes de Guarulhos desde a instituição da pasta em 1982 pelo então prefeito, Rafael Rodrigues Filho, Wilson David relembrou com saudosismo momentos da época áurea do esporte de Guarulhos em cenário nacional e até mundial entre os anos de 1987 e 2000. Nesse período a cidade ganhou o título de “Capital do Esporte Nacional”.
“Fiquei ausente por alguns anos após a instauração da Secretaria, mas tive o convite para retornar em 1987. Nesse período se criou uma estrutura para as modalidades olímpicas e era a cidade que mais fornecia atletas para os jogos Olímpicos e Pan-Americanos. Foi um período muito bom, inclusive nesta época começou a se construir as praças esportivas”, lembrou David.
O gestor daquela Pasta destacou as conquistas globais dos guarulhenses nas mais diversas competições e modalidades esportivas. A cidade ostentou a condição de heptacampeã dos Jogos Regionais e hexacampeã dos Jogos Abertos. Neste ano, Guarulhos desistiu de participar tanto dos Jogos Regionais quantos dos Abertos, por entender que não tinha condições de competir em alto nível.
“Quando chegou no ano de 1990, Guarulhos já tinha atingido o alto nível e fomos campeões dos Jogos Regionais em Cubatão e pela primeira vez campeões dos Jogos Abertos do Interior na cidade de Araçatuba. Desde aquele momento continuamos a sequência vitoriosa com títulos em 1990, 1991, 1992, 1993, 1994, 1995 e 1996, este o único ano em que não conquistamos o Jogos Abertos, onde ficamos com o vice”, declarou.
Com a voz embargada, Wilson lamentou o estágio atual do esporte guarulhense e enalteceu as iniciativas particulares que mantém as modalidades vivas e em atividades. Segundo ele, a cidade perdeu a credibilidade nesta área e afirma que os investimentos necessários dependem da vontade política daquele que administra o Poder Executivo.
“A cidade, hoje, não participa de mais nada. Temos um problema sério. Se o prefeito não tiver interesse pelo esporte na cidade, não adianta nem começar a fazer esse trabalho de iniciação esportiva para elevar o nível técnico desses atletas. Desde 2001 após a eleição do Elói Pietá (PT), o esporte foi caindo. Disputou algumas edições dos Jogos Regionais, mas sem nenhuma pretensão. É uma pena”, lamentou.
Medalha de bronze nos Jogos Pan-Americanos de 1959, em Chicago (EUA), campeão mundial de basquete, no Rio de Janeiro, em 1963, e outras mais com a camisa da Seleção Brasileira, Carlos Domingos Massoni, o Mosquito, depois de encerrar sua carreira no tradicional Sírio, decidiu continuar no esporte, mas como técnico e professor de Educação Física. E para essa continuidade optou por exercer suas novas atribuições na cidade de Guarulhos.
Apesar dos títulos conquistados no basquete representando a cidade, Mosquito, que pelo trabalho prestado ao esporte local recebeu homenagem, em 2013, do SESI (Serviço Social da Indústria) ao incorporar o seu nome em seu complexo esportivo no município, demonstrou total descrença no futuro do esporte de Guarulhos.
“Não vejo mais nada. Falaram, falaram e não fizeram nada! Por muitas vezes expliquei que não adianta fazer 500 quadras de basquete se não dão continuidade. Guarulhos, não acredito mais! Enquanto não mudar a política por aqui, não terá mais recuperação e vai ficar jogado às traças. Tivemos bons incentivadores como o Valdomiro Pompeo, Néfi Tales, Oswaldo de Carlos, Paschoal Thomeu, Vicentino Papotto, que aliás desde sua saída do Governo Municipal o esporte em Guarulhos acabou”.
Já o atleta Wilson David (apesar de ter o mesmo nome do ex-secretário, não tem qualquer grau de parentesco com ele), que começou sua carreira de atleta olímpico com 17 anos, foi oito vezes campeão brasileiro universitário, campeão paulista juvenil e participou de cinco sul-amercicanos. Estas foram algumas das conquista do ex-atleta olímpico, especialistas em corridas de 400 e 800 metros rasos, além de revezamentos 4 x 100 e 4 x 400. Formado na escolinha de esportes do estádio da Ponte Grande, Wilson David dos Santos foi o primeiro atleta olímpico de Guarulhos.
Ele menciona a omissão da própria Secretaria de Esportes que terceirizou parte de seu cronograma à Secretaria de Educação e relembra ações vitoriosas realizadas pelo Governo Municipal e que se perderam no tempo. Segundo ele, os profissionais de esporte da cidade perderam e estão perdendo espaço.
“Atualmente a gente vê a (Secretaria de) Educação fazendo o papel do Esporte. Eles têm um convênio com a Liga do Desporto, que poderia estar sendo feito pelos profissionais da Secretaria de Esportes. Por que tem que terceirizar? Qual é o interesse? Algum vereador foi verificar o valor desse contrato e o alcance que ele tem?”, criticou.
Outro nome entre os medalhistas com formação esportiva em Guarulhos também demonstrou certa aflição em relação ao gerenciamento das práticas esportivas locais. Medalha de bronze nos Jogos Pan-Americanos, em 1981, na cidade de Havana (Cuba), e no Mundial Universitário de 1985, realizado no Brasil, a judoca Cristina Souza falou sobre o processo de massificação do esporte na cidade.
“Atualmente nós não temos nada e muito menos a massificação, além de apoio. Mas mesmo assim estamos realizando uns trabalhinhos de massificação que fica somente nisso. Hoje é o esporte educacional, puramente educacional. Quando um aluno quer participar de uma competição, nós federamos ele por um outro clube. Treina conosco, mas compete por lá”, revelou.
A crise no esporte local, seja em qualquer modalidade da prática esportiva, até no clamoroso futebol, que sequer teve uma equipe na principal divisão do futebol paulista ao longo dos anos, pode ser analisada e avaliada pela classificação do esporte regional realizada pelo o atual secretário de Esportes, Wagner Freitas. “Eu não sou o prefeito, eu sou o secretário”, resumiu a dizer o responsável pela Pasta que definha em Guarulhos.