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Espetáculo questiona o significado do tempo

Para cada pessoa, o tempo tem uma medida particular: pode ser acelerado, lento ou mesmo arrastado. Não importa, o que vale é descobrir a melhor forma de aproveitá-lo. Como já cantou Caetano Veloso: "Compositor de destinos, tambor de todos os ritmos… Tempo tempo tempo tempo". E esse é o tema central do novo espetáculo dirigido por Carla Candiotto, Momo e o Senhor do Tempo, que estreia neste fim de semana, dias 15 e 16, no Teatro Alfredo Mesquita, em São Paulo, e que terá apresentações nos sábados e domingos seguintes no Teatro João Caetano (dias 22 e 23), Teatro Cacilda Becker (29 e 30), Teatro Arthur Azevedo (5 e 6 de fevereiro) e no Teatro Paulo Eiró (dias 12 e 13). Todas gratuitas.

Autor também da clássica História Sem Fim, o alemão Michael Ende desenvolve seu texto mais uma vez para conquistar crianças e adultos. "Sou apaixonada por esse autor há mais de 25 anos, pelo poder de sua escrita fantástica, que nos mostra problemas contemporâneos", revela Carla Candiotto ao <b>Estadão</b> sobre sua ligação com as obras do escritor.

Obra premiada, Momo e o Senhor do Tempo foi publicada em 1973 e propõe uma discussão sobre a importância e o significado do tempo. Sempre à procura de histórias que a comovam e que despertem nela a vontade de refletir e discutir a vida – algo que ela traz desde os tempos dos trabalhos com a Cia. Le Plat du Jour -, Carla reafirma sua aptidão para colocar em cena esses contos da literatura infantojuvenil "de forma irreverente, trazendo para o presente", que é o que se observa neste novo espetáculo.

Na verdade, o texto de Ende funciona como uma metáfora dos dias atuais, com nosso dia a dia completamente preenchido, sem sobrar minutos para olhar em volta e enxergar o que se passa. "Momo é uma criança que trouxe de volta às pessoas o seu tempo roubado", conta a diretora sobre a trama em questão. "O Senhor do Tempo é alguém que ajuda Momo nessa aventura e sua função é distribuir o tempo para as pessoas possam escolher o que fazer com ele." E é assim que o público verá em cena essa menina que é o puro instinto da criança que escuta, "é curiosa e sabe muito bem o que fazer com seu tempo. Momo vive apenas o presente".

<b>Aventura</b>

No palco, a atriz Camila Cohen dá vida à personagem principal, que conta com a companhia de seu amigo Beppo (Victor Mendes) nessa aventura. Tudo começa quando a menina chega em uma cidadezinha e vai morar em um teatro abandonado. A partir daí, procura mostrar para as crianças como brincar, pois elas não sabem mais fazer isso. Mas vai além, ao revelar para as pessoas locais como é importante o relacionamento entre todos, mesmo com pensamentos distintos. E, como conta a diretora, na história contada, os inimigos em questão "são os seres cinzas, que compram e armazenam o tempo das pessoas".

Para conseguir isso, os tais cinzas inventam uma caixa econômica do tempo e conseguem convencer as pessoas de que "elas têm que se dedicar mais ao trabalho do que aos amigos, enfim criam táticas para convencer as pessoas a poupar o tempo", explica a diretora. Esse plano mirabolante expressa a importância com que esses homens interesseiros veem o tempo, como algo muito precioso. "Eles se alimentam dele, cada segundo, cada minuto, só que não se trata de poupar tempo, nem de se aproveitar ao máximo. Isso não existe. Tempo é vida e a vida mora em nossos corações."

Nessa transposição do livro de Ende para o teatro, Carla fez a adaptação junto com Victor Mendes e Aline Moreno. O cenário foi criado por André Cortez, que convida o público a entrar nessa jornada usando a imaginação, pois dezenas de caixas de madeiras se transformam em personagens, a depender da situação e de como são manipuladas pelos atores. Já os figurinos são assinados por Chris Aizner. A luz ficou por conta de Wagner Freire e a música, inspirada em cinema, tem a pegada de Marcelo Pellegrini. Ainda no elenco, Eric Oliveira, Ernani Sanchez e Fabrício Licursi.

<b>Uma dica</b>

Além dessa adaptação para o teatro, o livro de Michael Ende é também uma dica de leitura que Carla Candiotto oferece a seu público. E cita uma frase do autor para reafirmar essa escolha: "Poderia ter contado essa história como se fosse no passado, ou no futuro, mas resolvi contar essa história para viver o presente".
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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