Membro titular da Comédie-Française há 50 anos, André Dussollier comemora suas bodas de ouro com a mais prestigiosa instituição do teatro em seu país ao mesmo tempo que colhe os louros da carreira internacional pela atuação que renovou seus laços de amor com o cinema europeu: Está Tudo Bem. Já em cartaz no Brasil, o novo filme de François Ozon rendeu a seu protagonista uma ovação em sua passagem pelo Festival de Cannes de 2021.
Ozon dá ao veterano intérprete uma história de luto e superação sobre suicídio assistido – e baseado em fatos reais – que estreou em seu país no ano passado, no momento em que ele se despedia de um amigo: Jean-Paul Belmondo (1933-2021).
"Fiquei muito próximo de Belmondo em seus momentos finais e acompanhei sua luta para viver uma experiência de apego à sobrevivência que me fez entender que, enquanto conseguem se expressar, as pessoas em estado de fragilidade ainda têm no que se agarrar e ainda têm razões para resistir", disse Dussollier ao <b>Estadão</b> durante o Rendez-Vous Avec Le Cinéma Français, um fórum de promoção da produção francófona realizado em janeiro. "O mais triste no ciclo de finitude que leva as pessoas ao desespero é a perda da autoestima. Conheci pessoas geniais como Jean-Dominique Bauby, jornalista e escritor que ficou paralisado após um derrame, sendo capaz de se expressar apenas com o movimento de um olho e que se agarrou à vida enquanto teve chance. Mas não julgo quem deseja antecipar a partida. Não me cabe esse direito."
<b>ARQUÉTIPOS</b>
Ator desde seus 23 anos, Dussollier ingressou no cinema também há cinco décadas, quando foi escolhido por François Truffaut (1932-1984) para um papel em Uma Jovem Tão Bela Quanto Eu (1972). E ele não parou mais. "Teatro é onde reflito sobre os arquétipos da existência. Nos filmes, penso sobre a vida cotidiana. Percebo que cada geração de cineastas aporta sua própria percepção da realidade. A de Ozon se dá pelo respeito aos afetos", diz Dussollier.
Em Está Tudo Bem, ele encarna o industrial octogenário André Bernheim, baseado no pai da escritora Emmanuèle Bernheim (1955-2017). Amiga de Ozon, ela registrou nas páginas de seu best-seller Tout SEst Bien Passé sua luta para ajudar André a ter uma eutanásia autorizada após as sequelas de um derrame. No filme, Sophie Marceau encarna Emmanuèle. "Ela chegou a me pedir que filmasse o livro, logo depois de publicado, mas éramos próximos demais para ter o distanciamento que esse projeto exigia", contou Ozon ao <b>Estadão</b>, na Berlinale, em fevereiro. "Mudei de ideia depois que ela morreu e percebi a necessidade de explorar esse tema da despedida e, sobretudo, da experiência de lidar com alguém que está partindo. E a sabedoria de Dussollier foi fundamental para isso."
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>