Um estudante de Ciências Sociais da Universidade de São Paulo (USP) afirma ter sido vítima de agressão física e de racismo na madrugada de sábado, 11, durante uma festa do Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco, centro da capital. A entidade estudantil nega a versão do rapaz e diz que investiga o caso.
João Henrique Custódio, de 30 anos, afirma que apanhou de três seguranças quando entrava na festa Cervejada do Peru com mais quatro amigos. Segundo ele, o grupo estava em um apartamento no centro quando viu que havia uma festa perto do local. “Quando chegamos na festa havia barras de metal na rua, como as de eventos da Prefeitura, e ninguém na porta para orientar, então entramos.”
O estudante conta que foi o primeiro a entrar no local e se distanciou do grupo. Segundo ele, os colegas foram barrados depois de entrar, informados que a festa era paga e retirados do local pelos seguranças. “Quando eu voltei para ver por que os meus amigos ainda estavam perto da entrada, fui surpreendido por uma chave de braço de um dos seguranças”, explica. Ele afirma que depois recebeu socos e pontapés na costela e na bacia e que foi jogado contra as grades.
“No início eu achei que eram skinheads me batendo pelo fato de eu ser negro e homossexual, mas não. Eram as pessoas que deviam fazer a segurança da festa”, afirma. “Nenhum dos seguranças conversou comigo, eles já vieram me batendo, tentando me tirar de lá. E, claramente porque eu sou o único negro do grupo, fui o único agredido.”
Thiago Clemente de Amaral, de 31 anos, um dos amigos de Custódio que estavam no local e ex-aluno da Faculdade de Direito, afirma que os seguranças usaram de força física para retirar todos os estudantes da área. “Eles foram brutos com todos, mas usaram força desproporcional contra o João. E os óculos dele ainda foram jogados no chão e quebrados.”
Custódio conta que, quando afirmou aos seguranças que chamaria a polícia, um deles se identificou como policial e chegou a ameaçar o grupo. “Ele disse que a coisa ia ficar grave se chamássemos a polícia.”
A Polícia Militar foi acionada e chegou ao local cerca de meia hora depois, informaram os jovens. Custódio conta que o segurança que se identificou como policial quis conversar reservadamente com os PMs. “Eu fui atrás, porque queria saber o que ele ia falar. Queria que ele se identificasse”, diz. “Ele então se revoltou e disse: Seu negrinho de merda, não se intromete que a coisa vai ficar feia.”
Os amigos foram encaminhados para o 8.º Distrito Policial (Brás), onde Custódio fez um BO. “Não me deixaram incluir racismo porque não tinha testemunha.” Ele fez exame de corpo de delito e aguarda o laudo para abrir um processo.
Centro Acadêmico
Em nota, o XI de Agosto nega a versão de Custódio e afirma que mostrou aos estudantes um alvará da Prefeitura autorizando o uso do espaço público, mas que os jovens se negaram a sair. “Não houve socos. Não houve agressão. Não houve, tampouco, tentativa do lado dele (Custódio) de dialogar conosco”, explica a nota.
Por telefone, o diretor do centro acadêmico Gabriel Beré afirmou que o XI de Agosto investiga o caso.
Ele afirmou que os seguranças da festa foram contratados por meio de uma empresa terceirizada. A diretoria disse que informaria o nome da empresa e dos seguranças, mas não foi localizada novamente até as 20 horas de ontem.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.