Robert Mueller, responsável pela investigação realizada sobre eventual conexão entre a eleição de Donald Trump e a interferência da Rússia na campanha de 2016, levantou a possibilidade de o presidente ter mentido, de acordo com nova versão do relatório final sobre a investigação, que veio a público na sexta-feira. De acordo com relato da CNN, as novas revelações têm relação, em grande parte, com os esforços realizados em 2016 por Roger Stone, ex-assessor de Trump e de quem o presidente é amigo de longa data. Stone deve ser julgado ainda este ano.
Quando o relatório de 448 páginas foi originalmente divulgado, em abril de 2019, havia trechos deliberadamente omitidos, porque poderiam, àquela altura, interferir em outras questões em andamento, como o próprio julgamento de Stone.
Segundo a CNN, não há prova de que a campanha de Trump tenha conspirado com hackers russos que vazaram para o site Wikileaks arquivos roubados dos democratas – nenhum americano foi acusado por tal crime. Ainda assim, Mueller documentou muitas situações em que integrantes da campanha de Trump reagiram positivamente ao que russos e Wikileaks fizeram em 2016.
"A campanha de Trump mostrou interesse nas divulgações do Wikileaks…Após a previsão de Stone de que o primeiro vazamento se mostraria verdadeiro, a campanha de Trump permaneceu em contato com Stone sobre as atividades do Wikileaks. A investigação não conseguiu determinar se Stone teve um papel na divulgação feita pelo Wikileaks" em outubro. Naquele mês, uma surpresa ajudou Trump: o vazamento de e-mails roubados do chefe de campanha democrata, no mesmo dia em que era divulgado o áudio em que Trump se referia a mulheres de forma inapropriada.
Em resposta por escrito e sob juramento a questionamento feito por Mueller, Trump disse não se lembrar de ter conversado com Stone sobre o Wikileaks, mas Mueller descobriu que o atual presidente teve conversas sobre o assunto, não só com Stone mas também com outras pessoas, reporta a CNN.
"É possível que o presidente, ao submeter respostas por escrito dois anos após os relevantes eventos que ocorreram, não tivesse a lembrança clara das discussões com Stone ou de seu conhecimento das comunicações de Stone com o Wikileaks", escreveu Mueller no relatório. "Mas a conduta do presidente pode ser vista também como um reflexo da consciência de que Stone poderia fornecer evidência contrária às negativas do presidente, e que o vinculariam aos esforços de estender a mão para o Wikileaks", acrescenta Mueller. (Equipe AE)