Ex-diretores do Banco Central (BC) manifestaram nesta sexta-feira, 22, preocupação com o atraso da vacinação no Brasil e seus possíveis retrocessos no processo de reabertura da economia, que podem levar a gastos inviáveis para as contas públicas do País.
"Os atrasos no Brasil são preocupantes porque se isso produzir mais gasto e estímulo fiscal, e há discussões sobre renovação do auxílio emergencial, você pode ter um problema sério porque o Brasil não tem mais espaço para gasto fiscal", comentou Carlos Viana, ex-diretor das áreas de Política Econômica e Política Monetária do BC, durante painel de seminário virtual promovido pelo Modalmais.
Viana, que hoje é sócio da gestora Asset 1, acrescentou que o atraso da imunização pode ter implicações mais "dramáticas" em países em situação fiscal delicada como o Brasil.
Ele disse não ver uma mudança estrutural no processo inflacionário no País, onde, assim como a atual direção do BC, vê como temporário os choques de preços. Porém, Viana ressaltou que há muita dificuldade de leitura sobre a destruição de oferta no Brasil, com o fechamento de empresas, e incertezas a respeito da recuperação econômica.
Sobre o mesmo tema, Tiago Berriel, que foi diretor de Assuntos Internacionais na gestão anterior liderada por Ilan Goldfajn, avaliou que a dinâmica da pandemia vai forçar um aumento de gastos não factíveis para o Brasil, uma vez que não há espaço para acomodar até mesmo um programa social pequeno, da ordem de R$ 40 bilhões, com realocação de gastos.
Segundo ele, o Brasil segue distante de uma realidade de reabertura da economia, com volta do setor de serviços e em que o consumidor realiza gastos represados na pandemia. "Não estamos nessa discussão ainda. Temos um longo caminho ainda", comentou Berriel, que é economista-chefe e sócio da Gávea Investimentos.
Na avaliação de Berriel, não se pode descartar um quadro de estagflação no Brasil, dada a possibilidade de aumento nos prêmios de risco, derivado do quadro fiscal, nos juros, levando a pressão sobre preços e estagnação econômica.
O ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC disse ainda que, se o governo quiser acalmar o mercado, a flexibilização da regra de teto, se acontecer, terá de ser acompanhada por um ajuste fiscal bastante claro e já aprovado, com uma direção das reformas de contenção de gastos.
"Não temos um histórico muito bom em cumprir promessas de horizonte mais longo, mas se for específico no corte de gasto, nas reformas que serão realizadas, isso traria tranquilidade muito grande ao mercado", comentou o economista-chefe da Gávea, que considera, contudo, improvável a possibilidade de as mudanças na regra do teto serem acompanhadas por contrapartidas de longo prazo.