O presidente russo, Vladimir Putin, enviou nesta quarta-feira, 9, seus principais comandantes militares à vizinha Belarus para o início de um exercício militar na fronteira com a Ucrânia. Em resposta, o governo ucraniano anunciou suas próprias manobras, com movimentação de tropas, uso de drones e mísseis antitanque fornecidos por aliados ocidentais. As duas operações aumentaram o temor de uma guerra.
Não é comum os principais comandantes militares da Rússia participarem de exercícios regulares. Menos ainda que contem com a presença de Valeri Gerasimov, chefe do Estado-Maior, que chegou ontem a Belarus para supervisionar pessoalmente as manobras. Putin enviou 30 mil soldados, dois batalhões dos sistemas de mísseis terra-ar S-400 e vários caças para o treinamento conjunto com o Exército belarusso.
Na semana passada, imagens de satélite analisadas pela Maxar Technologies, empresa de segurança dos EUA, mostraram que muitos equipamentos russos haviam sido remanejados para locais ainda mais próximos à fronteira. No início da semana, Moscou já havia despachado seis navios de guerra para o Mar Negro.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que a movimentação russa é para enfrentar ameaças à sua segurança. "Rússia e Belarus enfrentam ameaças sem precedentes, cuja natureza e concentração são, infelizmente, muito maiores e muito mais perigosas do que antes", disse.
Na segunda-feira, 7, Putin garantiu ao presidente francês, Emmanuel Macron, que as tropas russas deixariam Belarus assim que os exercícios terminassem, no dia 20. As manobras mostram que o ditador belarusso, Alexander Lukashenko, continua sendo um aliado importante do Kremlin.
<b>Pretexto</b>
Da fronteira de Belarus são apenas 200 quilômetros até Kiev, capital da Ucrânia. A concentração de forças russas no país vizinho, que compartilha mais de mil quilômetros de fronteira com a Ucrânia, abriria uma nova frente de ataque, o que poderia exaurir ainda mais as defesas ucranianas.
Após meses de mobilização militar, analistas alertam que as peças finais para uma invasão estão prontas para um ataque que pode derrubar o governo da Ucrânia, pró-Ocidente, e reafirmar o controle de Moscou sobre uma importante ex-república soviética que vinha escapando da esfera de influência da Rússia.
Para Nigel Gould-Davies, ex-diplomata britânico e analista do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, o período atual, de coerção diplomática, "não é uma alternativa à agressão, mas um prelúdio" da guerra. "A mobilização militar da Rússia, aliada à possibilidade de ataques cibernéticos e à redução do fornecimento de gás para a Europa indicam preparativos para ação militar", afirmou.
Há muitos anos, Putin tenta impedir a aproximação de Kiev com o Ocidente. Ele diz que o objetivo da Ucrânia de ingressar na Otan seria intolerável e ameaçaria a segurança da Rússia. Ele enviou para os EUA e para a Otan uma lista de exigências que envolvem a retirada de tropas da Europa Oriental e o compromisso de nunca permitir a adesão dos ucranianos na aliança – todas as demandas foram rejeitadas.
Diplomatas da Otan, falando sob condição de anonimato, disseram temer que as exigências de Putin sejam tão amplas que haja pouco ou nenhum espaço para compromisso. Outros analistas suspeitam que a lista russa com exigências tão difíceis de atender tenha sido apenas um pretexto para uma invasão.
Na Ucrânia, as tropas começarão os exercícios nesta quinta-feira, 10, usando drones armados e foguetes antitanque dos EUA e de aliados da Otan. O ministro da Defesa ucraniano, Oleksiy Reznikov, disse que as manobras, também programadas para terminar no dia 20, são uma resposta à movimentação na fronteira.
<b>Ameaças</b>
Em caso de invasão russa, provavelmente EUA e Europa imporiam um novo pacote de sanções à Rússia. Pensando na possibilidade de retaliação de Putin, o Banco Central Europeu, presidido por Christine Lagarde, alertou instituições bancárias da Europa e dos EUA para um possível ciberataque, de acordo com a Reuters. Os conselhos diretores dos bancos foram orientados a aumentar suas medidas de segurança. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS).
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>