Uma grande explosão ocorreu na manhã desta quinta-feira, 26, em um dos portões do aeroporto internacional de Cabul – onde uma das maiores operações de retirada aérea da história vem sendo realizada desde a tomada da capital afegã pelo Taleban. A informação foi confirmada pelo porta-voz do Pentágono, John Kirby, mas ainda não há um levantamento sobre vítimas.
O atentado ocorre na mesma semana em que autoridades ocidentais externaram preocupação com um possível ataque do Estado Islâmico (EI) no Afeganistão – com indicações claras de que as pessoas evitassem o aeroporto nesta quinta-feira.
O Estado Islâmico no Afeganistão, também conhecido como Estado Islâmico Khorasan (ISIS-K), foi criado há seis anos por dissidentes do Taleban paquistanês. O grupo é grupo afiliado ao Estado Islâmico, que atuou na guerra civil da Síria, sendo apontado como responsável por dezenas de atentados terroristas no país neste ano.
Diversas lideranças mundiais alertaram sobre o perigo de uma ataque nos últimos dias, mas da noite de quarta para a manhã desta quinta, novos alertas surgiram sobre a ameaça. O ministro das Forças Armadas britânicas, James Heappey, disse à <b>BBC</b> hoje que havia "uma informação muito confiável de um ataque iminente" no aeroporto, possivelmente dentro de "horas".
Na noite de quarta-feira, a Embaixada dos EUA alertou os cidadãos em três portões de aeroporto para sair imediatamente dos locais devido a uma ameaça à segurança não especificada. Antes, na terça-feira, 24, o presidente americano, Joe Biden, já havia mencionado o grupo terrorista. "Cada dia que estamos no terreno é mais um dia em que sabemos que o ISIS-K está tentando atingir o aeroporto e atacar as forças dos EUA e aliadas e civis inocentes", disse.
Um alto funcionário dos EUA, que falou sob condição de anonimato ao <i>The New York Times</i>, confirmou que os EUA estavam rastreando uma ameaça "específica" e "confiável" no aeroporto programada pelo ISIS-K.
Austrália, Reino Unido e Nova Zelândia também aconselharam seus cidadãos a não irem ao aeroporto nesta quinta-feira, com o ministro das Relações Exteriores da Austrália dizendo que havia uma "ameaça muito alta de um ataque terrorista". Vários países pediram às pessoas que evitem o aeroporto, onde a Bélgica disse haver ameaça de um ataque suicida.
O porta-voz do Taleban, Zabihullah Mujahid, negou que qualquer ataque fosse iminente. "Não está correto", escreveu em uma mensagem de texto após ser questionado sobre os avisos. Ele não deu mais detalhes.
Em meio às preocupações, os aviões de carga militares que saem do aeroporto de Cabul já utilizam sinalizadores para interromper qualquer possível ataque com mísseis. Também há a preocupação de que alguém possa detonar explosivos na multidão em frente ao aeroporto.
"Recebemos informações a nível militar dos Estados Unidos, mas também de outros países, de que havia indicações de que havia uma ameaça de ataques suicidas contra a massa da população", disse o primeiro-ministro belga Alexander De Croo, falando sobre a ameaça em torno do aeroporto de Cabul.
<b>Desespero</b>
Apesar de todos os alertas, no entanto, poucos pareceram atender aos alertas faltando apenas alguns dias para o término do esforço de retirada. Heappey admitiu que há pessoas desesperadas para partir e que muitos na fila estão dispostos a se arriscar, mas reforçou que as informações sobre a ameaça eram muito confiáveis. "Há chances de que, à medida que mais relatórios forem chegando, possamos mudar a recomendação novamente e processar as pessoas de novo, mas não há garantia disso", acrescentou.
O Estado Islâmico no Afeganistão surgiu a partir de uma dissidência do Taleban no Paquistão, reunindo representantes que têm uma visão ainda mais extrema do Islã. O grupo é uma das muitas afiliadas que do Estado Islâmico (EI) estabeleceu depois que invadiu o norte do Iraque vindo da Síria em 2014 e criou um califado do tamanho da Grã-Bretanha. Desde junho de 2020, sob o comando de um novo líder, Shahab al-Muhajir, o ISIS-K "permanece ativo e perigoso" e busca aumentar suas fileiras com combatentes do Taleban insatisfeitos e outros militantes, aponta um relatório da ONU.
Oficiais de contraterrorismo da ONU disseram no relatório de junho que o grupo do Estado Islâmico realizou 77 ataques no Afeganistão nos primeiros quatro meses deste ano, contra 21 no mesmo período em 2020. Os ataques do ano passado incluíram um ataque contra a Universidade de Cabul em novembro. Acredita-se que o ISIS-K tenha sido o responsável pelo atentado a bomba em uma escola na capital, que matou 80 meninas, em maio.
Apesar de combaterem as forças americanas e do governo afegão por anos, o ISIS-K também lutou contra o Taleban ao longo dos últimos anos, e seus líderes denunciaram a tomada do país pelos rivais, criticando sua versão do governo islâmico como uma linha que não é dura o suficiente.
<b>Prazo final</b>
Em meio às ameaças e à iminente retirada americana, alguns países europeus disseram que teriam de encerrar suas evacuações. O primeiro-ministro francês, Jean Castex, disse à rádio <i>RTL</i> que os esforços de seu país terminariam na sexta-feira (27) à noite devido à retirada dos EUA.
O ministro da Defesa dinamarquês, Trine Bramsen, advertiu sem rodeios: "não é mais seguro voar para dentro ou para fora de Cabul". O último voo da Dinamarca já partiu, e Polônia e Bélgica também anunciaram o fim de suas evacuações. O governo holandês disse que os EUA disseram para partir na quinta-feira.
O Taleban disse que permitirá que os afegãos partam em voos comerciais após o prazo final da semana que vem, mas ainda não está claro quais companhias aéreas retornarão a um aeroporto controlado pelos militantes. O porta-voz presidencial turco Ibrahim Kalin disse que conversas estão em andamento entre seu país e o Taleban sobre permitir que especialistas civis turcos ajudem a administrar as instalações. (Com agências internacionais).