Praticamente uma em cada quatro empresas que exportam eletroeletrônicos produzidos no Brasil revisou para baixo os embarques previstos para 2016 depois que o dólar recuou para menos de R$ 3,20.
De acordo com sondagem feita pela Abinee, associação que representa fabricantes de produtos que vão de eletrodomésticos portáteis e aparelhos de informática a equipamentos industriais, como geradores, 24% dos associados da entidade reduziram em cerca de um terço – 35%, mais precisamente – a meta de exportações deste ano.
O levantamento foi feito no início desta semana, quando o mercado ainda absorvia o movimento que colocou a moeda americana no menor nível em mais de um ano – antes, portanto, da reação esboçada pelo dólar entre quinta-feira, 11 e sexta-feira (12). Empresas do setor relatam que deixam de ter competitividade para disputar mercados internacionais, até mesmo no Mercosul, com o dólar abaixo de R$ 3,50.
A maioria dos exportadores dessa indústria (76%) manteve as previsões para os embarques deste ano, por conta, principalmente, de contratos já fechados. Ainda assim, parte desse grupo considera que deve perder competitividade futura se o real mantiver a trajetória de apreciação.
Segundo Humberto Barbato, presidente da Abinee, as empresas de eletroeletrônicos avaliam que o câmbio deveria se estabilizar acima dos R$ 3,50, a marca considerada como ideal.
“Já transmitimos ao ministro Henrique Meirelles (Fazenda) a mensagem de que não podemos ter essa volatilidade cambial. Quando se tem uma taxa de juros como tem o Brasil, o câmbio coloca a indústria numa posição fragilizada”, afirmou Barbato, que defende a retomada das taxas de juros competitivas nos financiamentos das exportações.
Nas contas das empresas filiadas à Abinee, as exportações de eletroeletrônicos devem chegar a US$ 6,2 bilhões neste ano, num crescimento de 5% sobre o montante apurado em 2015 – ano negativo nas vendas externas -. A elevação da exportação tem ajudado a aliviar a redução superior a 19% na produção.
O fluxo de produtos eletrônicos que chegam do exterior ao Brasil é muito maior, mas, depois de passar de US$ 41 bilhões em 2014, as importações cederam para US$ 31,4 bilhões e US$ 29,1 bilhões, respectivamente, nos dois anos seguintes. Tal redução, combinada à recuperação das exportações, permite suavizar para menos de US$ 23 bilhões – previsão para 2016 – o déficit nas transações comerciais de produtos elétricos ou eletrônicos, que dois anos atrás somava US$ 34,6 bilhões.
Mesmo com o dólar mais barato, Barbato não crê na inflexão da tendência de queda dos importados, dada a fraca atividade econômica. “Se houvesse mercado consumidor, os concorrentes estrangeiros estariam rindo à toa neste momento”, finalizou.