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Exposição traz memorabilia que narra a breve carreira do Nirvana

No dia 6 de janeiro de 1990, um Kurt Cobain de 22 anos, recém-chegado de shows pela Berlim do muro recém-derrubado, deu entrevista a uma emissora de TV de Seattle na condição de aspirante a estrela do rock. Disse não saber explicar por que a chuvosa cidade do noroeste norte-americano se tornara cenário fértil para o grunge que iria soar mundo afora a partir do ano seguinte, com o estouro do disco Nevermind. “Não sei, é o acaso, sorte. É louco termos tantas bandas no lugar certo”, declarou o vocalista e guitarrista do Nirvana, em imagens que nunca iriam ao ar.

O programa acabou tendo a exibição cancelada à época, e a raridade só veio a público quando da montagem da exposição Nirvana: Taking Punk to the Masses pelo Museum of Pop Culture, de Seattle, em 2011. Pela primeira vez, a mostra, já vista por mais de 3 milhões de pessoas, deixou o moderníssimo prédio projetado por Frank Gehry para a centenária construção que abriga o Museu Histórico Nacional, no Rio, com seus 200 itens, entre instrumentos (das marcas mais baratas, compradas em lojas de departamento no início da carreira, às Fenders preferidas de Kurt, sendo sete delas parcialmente destruídas em seus arroubos roqueiros), fotos, desenhos, discos e roupas dos integrantes da banda.

É um conjunto que move os fãs e aguça a curiosidade de quem só conhece o Nirvana de Smells Like Teen Spirit, Come As You Are e Lithium – os três hits, aliás, ecoam numa sala interativa, onde os visitantes podem cantar e bater cabeça diante de uma câmera. “Queria atrair tanto o grande fã quanto quem não entende nada de Nirvana nem de punk-rock”, explica o curador do museu e da mostra, Jacob McMurray.

“Eu achava que ficaria um ano em cartaz, mas foi um sucesso e o museu se tornou um lugar de peregrinação. Na época do aniversário de Kurt e de sua morte, vemos pessoas circulando nas galerias só por causa dele, com jaquetas com seu rosto, vestidas como ele se vestia. A história do Nirvana em geral é associada a suicídio (de Kurt) e abuso de drogas, mas vale a pena apresentá-la como algo inspirador para jovens músicos: esses eram garotos que não precisaram ir a Los Angeles ou Nova York para se tornar a banda mais famosa do planeta.”

A ilustração de um casal de punks feita por Kurt adolescente, na escola, acompanhada de fotos dele na sala de aula, tirando meleca do nariz; a primeira guitarra destruída por ele no palco, em outubro de 1988, num show para 50 pessoas num dormitório de universidade, quando não havia dinheiro sequer para o pagar o aluguel, que dirá para comprar um novo instrumento; o primeiro pôster de show, do mesmo ano, desenho dele também; letras manuscritas numa folha de caderno, de composições que entraram no LP de estreia, Bleach; os setlists dos shows no finado Hollywood Rock, no Rio e em São Paulo, em janeiro de 1993, escritos à mão pelo baterista Dave Grohl, e também a da última apresentação, em março de 1994, em Munique; o primeiro contrato assinado com a gravadora Sub Pop, em 1990, no valor de US$ 600 – são alguns momentos de destaque na narrativa dos seis anos de vida do Nirvana.

Com mais de 130 mil itens sobre música popular, o museu tem a maior coleção de memorabilia do Nirvana. Para esta mostra, repleta de fotos icônicas dos músicos no palco, com seus jeans e tênis surrados e camisas de flanela, foram selecionadas peças do acervo pessoal do baixista Krist Novoselic, de sua ex-mulher, Shelli Hyrkas, entre outras pessoas, além de objetos adquiridos em leilões.

Em cartaz no Rio até agosto, a exposição – que na sequência vai para o Lounge Bienal, no Ibirapuera -, em sua porção final oferece um painel dos 21 discos de formação de Krist Novoselic – clássicos do Black Sabbath, The Stooges… – e, na sessão interativa, um painel que reproduz a piscina da foto da capa de Nevermind, a nota de US$ 1 à frente.

A exposição é patrocinada pela Samsung, com recursos obtidos via Lei Rouanet. Uma parte do que é exibido em Seattle não veio (os donos dos objetos temeram a viagem, apesar do seguro). Um norte que a curadoria seguiu foi a pergunta: o que exatamente, em Seattle, propiciou o surgimento não só do Nirvana, mas de gigantes como Soundgarden, Alice in Chains e Pearl Jam? “Numa cidade chuvosa e fria, faz sentido as pessoas passarem a maior parte do tempo entocadas, fazendo música e bebendo cerveja”, tenta responder McMurray.

NIRVANA: LEVANDO O PUNK ÀS MASSAS
Museu Histórico Nacional. Praça Mal. Âncora, s/nº, Rio. 3ª a 6ª, 10h/ 17h30; sáb., dom. e feriado, 13h/ 17h. R$ 20/ R$ 30. Até 22/8
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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