Estadão

Fed põe em xeque Ibovespa a 140 mil pontos; incerteza com Israel-Hamas entra no radar

As incertezas externas reavivadas principalmente em decorrência da disparada dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos começam a colocar sob revisão as projeções de até 140 mil pontos para o Ibovespa deste ano, elevando ainda mais as dúvidas em relação a 2024.

Este cenário já turvo ganha um ingrediente extra: o conflito entre Israel e os terroristas do Hamas, que já deixou centenas de pessoas mortas, e pressiona o petróleo para perto de US$ 90 o barril. Isso tende a elevar a possibilidade de políticas monetárias restritivas por mais tempo do que o imaginado.

Ainda que a valorização do petróleo beneficie as ações do setor petrolífero, a disparada do barril eleva os riscos inflacionários. Segundo João Daronco, da Suno Research, os efeitos nos mercados dependerão do quanto vai durar o conflito e qual será sua intensidade, além do fato de se a guerra escalará para outras regiões e se mais países aderirão a este acontecimento. "Isso vai ditar muito sobre o preço do Brent petróleo do tipo Brent, referência para a Petrobras, se irá ficar alto por mais tempo", afirma.

Algumas instituições ainda mantêm suas expectativas de 140 mil pontos para o Índice Bovespa no fim de 2023, mas já não escondem que o número pode terminar em menor nível não só neste ano, mas também no seguinte. Com uma política monetária apertada no exterior, o espaço para cortes de maior intensidade da taxa Selic tende a diminuir, bem como um eventual ciclo de queda menor.

A Guide Investimentos, por exemplo, colocou sob revisão o preço-alvo do Ibovespa. Antes, a casa esperava 140 mil pontos para o fim de 2023, mas viu que o ambiente de aversão a risco se acentuou lá fora e dificultou uma melhora local, mesmo com o início de trajetória da queda da Selic.

"Os fundamentos internos ainda caminham de forma positiva. A Selic iniciou sua queda e o desempenho das empresas tem sido bom, mas obviamente a piora nos títulos dos EUA não era esperada no começo do ano. Com isso, uma melhora mais consistente do mercado financeiro pode demorar um pouco", afirma o gerente sênior de Research da Guide Investimentos, Fernando Siqueira.

Siqueira diz que três meses parece "pouco tempo" para que o Ibovespa tenha uma virada, mas espera que essa tendência de melhora se concretize em 2024.

Assim, mesmo que o Ibovespa não vá para algo entre 130 mil e 140 pontos, a tendência é de um avanço considerável ao considerar o atual nível.

Na última pesquisa do Bank of America (BofA), a maior parte dos gestores esperava o Ibovespa entre 130 mil pontos e 140 mil pontos no fim de 2024, colocando como maior risco a este cenário um aumento dos juros americanos.

O Inter, contudo, estima desde dezembro de 2022 que o principal índice da B3 deve encerrar 2023 aos 118 mil pontos. "Continuamos com essa projeção. Não que éramos mensageiros do caos, mas, na nossa opinião, era enxergar a realidade do que já tínhamos. Quando tentávamos olhar para frente, o cenário de corte de juros por aqui já parecia dado, a China desacelerando já era esperado, e os Estados Unidos eram a maior incógnita", afirma a estrategista-chefe do Inter, Gabriela Joubert.

Neste ambiente, especialistas ouvidos pelo <i>Broadcast</i> (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) avaliam ser prematuro traçar um cenário para o Índice Bovespa antes de o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) sinalizar o rumo da sua política monetária. "Vai depender muito dos próximos movimentos do Fed, independente de tudo o que está acontecendo. A partir daí, veremos se o mercado continuará considerando que há ativos baratos ou se buscará proteção", pontua o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus.

Joubert, do Inter, afirma que a estimativa para o Ibovespa em 2024 ainda está sob revisão, a fim de ter um pouco mais de clareza em termos macroeconômicos. "Se para adivinhar o que vai acontecer com o Fed em novembro já está difícil, imagina prever o que vai ser em 2024?", pontua.

Ainda que muitos considerem que há ativos "descontados" na carteira do Ibovespa, a força da atividade dos EUA e o sinal de uma inflação que custa a ceder rumo à meta de 2,00% reforçam a cautela. Com isso, estima-se que o Fed deixará os juros em nível elevado por mais tempo do que o esperado – isso se não optar por um novo aumento dos Fed Funds ainda em 2023.

"Com essa expectativa e em meio ao nível elevado dos Treasuries, tira força mesmo estando barato. Não vejo muito rali para fim do ano. Tudo o que pode vir para cá é mais do lado negativo do que de positivo. Além do mais, há as incertezas fiscais, se o governo conseguirá aumentar a arrecadação de forma a zerar o déficit fiscal em 2024", relata o operador da mesa institucional da Renascença, Luiz Roberto Monteiro.

O que pode trazer maior tração para o Ibovespa nestes últimos três meses do ano, segundo Joubert, do Inter, é a China. "Caso o cenário de estabilização se confirme na economia asiática, isso sim pode destravar valor, considerando o peso das empresas do segmento no índice, como Vale – que é a companhia com maior peso no Ibovespa", explica.

Contudo, a estrategista-chefe do Inter pontua que "mais uma vez, a política monetária dos EUA ainda é o principal ponto de atenção" e que o último payroll – quando os Estados Unidos criaram 336 mil novos empregos em setembro, ante expectativa de 175 mil vagas, segundo o Projeções Broadcast – adiciona um elemento a mais de incerteza.

"O momento é complicado para se pensar em rali levando em consideração fundamentos melhores. Pode avançar por ser fim de ano, mas não que isso sinalizará um quadro favorável. Pensar em alcançar 140 mil pontos, considero demais. Se for a 130 mil pontos, pode-se soltar morteiro. O nível entre 120 e

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