Jogadores, dirigentes e integrantes das comissões técnicas dos clubes que disputam o Campeonato Paulista podem ser punidos esportivamente por comportamento social inadequado que infrinja o protocolo de controle do novo coronavírus da competição. A proposta da Federação Paulista de Futebol de endurecimento das regras vem em meio à paralisação do torneio após decreto que proíbe a realização de partidas no Estado até 30 de março e ainda será levada para discussão entre os clubes, mas já enfrenta resistência do TJD (Tribunal de Justiça Desportiva).
A quinta rodada do Paulistão, que deveria ser realizada neste sábado e domingo, teve os seus jogos suspensos porque a federação não conseguiu levar as partidas para outro Estado e a opção de entrar na Justiça com mandado de segurança para continuar com a competição em São Paulo foi descartada pela maioria dos clubes. Nova reunião para definir o futuro do Paulistão está marcada para segunda-feira, quando a possível inclusão no regulamento do Estadual de um artigo sobre atitudes tomadas por atletas fora de campo também deverá ser discutida, inclusive sobre quais tipos de punições poderão ser aplicadas na esfera esportiva.
"Temos um protocolo extremamente rigoroso, mas sempre existe quem, fora do ambiente de trabalho, descumpra as regras sanitárias. Por isso, estamos estudando a possibilidade de punição dos profissionais que não seguirem essas normas que são cruciais para a saúde de todos. É um trabalho que começamos a fazer e queremos discutir com os clubes como poderá ser implementado", disse ao Estadão o presidente da federação, Reinaldo Carneiro Bastos.
Ao longo da pandemia, foram registrados vários episódios de desrespeito às regras de distanciamento social e uso de máscara envolvendo jogadores dos quatro principais clubes do Estado. O caso mais recente foi de Jô e Otero, do Corinthians. Em meio a um surto de covid-19 que atingiu o clube, na semana passada ambos foram para um resort com as famílias durante a folga do elenco. O próprio Jô publicou nas redes sociais foto de Otero dentro de uma piscina, com várias pessoas ao redor, todas sem máscara.
No São Paulo, o zagueiro Arboleda chegou a ser punido em outubro por ter ido a um show de funk, no qual tanto o jogador como o artista não estavam usando máscaras.
No Palmeiras, dois casos chamaram atenção. Primeiro, o volante Felipe Melo organizou uma festa de aniversário com amigos, familiares e outras pessoas do clube. Depois, em novembro, o também volante Ramires foi multado pela diretoria por ser flagrado em uma casa noturna sem máscara e em um ambiente fechado – o jogador já deixou o clube.
No Santos, alguns atletas e dirigentes estiveram presentes na Vila Belmiro durante uma partida beneficente promovida pelo ex-jogador Narciso no fim do ano que contou com a presença do presidente Jair Bolsonaro e descumpriram protocolos sanitários no evento, no qual foram registradas várias cenas de aglomeração. O goleiro João Paulo, o meia Lucas Lourenço e o atacante Marinho, por exemplo, não utilizam máscaras de proteção.
Para o presidente do TJD, delegado Antonio Assunção de Olim, casos como esses não devem ser punidos pelo órgão. "Ainda preciso estudar essa questão, mas já adianto que sou contra. O que o jogador faz na vida pessoal é problema dele. Dentro do campo ou no estádio, é uma coisa. A vida particular é outra. Acho que não vai dar para pegar isso. Eu não entro na vida de jogador. Não dá para policiar atleta. O clube, que tem contrato com o jogador, é que precisa fiscalizar", disse.
Olim, inclusive, cita o exemplo de Gabigol, atacante do Flamengo flagrado com 150 pessoas em um cassino clandestino na capital. "Vejam o caso do Gabigol. O Flamengo não puniu e deixou bem claro que a vida particular é problema dele", disse o presidente do TJD.