Variedades

Festival Contemporâneo de Dança valida artistas e incluiu La Bête na programação

Foram três semanas ocupando a Galeria Olido e o Sesc Santana com sete espetáculos e três oficinas de criação. Na 8ª edição, o Festival Contemporâneo de Dança (FCD) continua com os princípios que o distinguem desde a sua criação, em 2008: programar artistas que não vivem debaixo das luzes midiáticas, abrindo a possibilidade de se apresentarem mais de uma vez e com mais de uma obra. Em uma sociedade que preza cada vez mais a novidade, a fidelidade a essa escolha é uma forma potente de resistência.

Com direção artística de Adriana Grechi e direção-geral e de produção de Amaury Cacciacarro Filho, o FCD trouxe novamente o búlgaro Ivo Dimtchev, que este festival apresentou ao Brasil em 2013 (Som Faves) e repetiu em 2014 (Concerto e Icure). Atual artista residente do Kaaitheater, em Bruxelas, Ivo, nesta terceira vinda, mostrou o seu primeiro solo, Lili Handel, de 2004, e 15 Songs from My Shows.

Nesse tipo de recorte curatorial, o FCD vai construindo um conhecimento em torno dos artistas com quem trabalha. Como Michelle Moura, que desta vez mostrou Blink, e já trouxe Cavalo, em 2011, e Fole, em 2013.

Às vezes, não é o próprio artista que continua voltando ao festival, como sucedeu com o marroquino Taofiq Izeddiou, que esteve em São Paulo em 2009 e 2012, e depois, em 2014, com a Cie. Anania, que fundou em Marrakesh com Bouchra Ouziguen e Said Aït El Moumenque. Neste ano, ampliando a referência já estabelecida, foi Bouchra Ouziguen quem trouxe o seu elenco feminino para dançar Madame Plaza.

Essa importante e diferenciada ação continuada do FCD faz com que possamos conhecer segmentos de dança com os quais teríamos pouca chance de entrar em contato. Além de ampliar nossas informações sobre a pluralidade do mundo, nos ajuda a escapar das referências que vão se tornando hegemônicas porque resultam do que a Europa e os EUA decidem nos exportar.

Um conjunto de qualidades dessa envergadura já bastaria para validar o FCD. Contudo, a sua 8ª edição teve um papel ainda mais relevante: incluiu La Bête (O Bicho) na sua programação de 2015. Wagner Schwartz também já tinha estado no festival, em 2012, com Piranha. Sucede que La Bête se tornou o acontecimento do ano porque dele resulta a imagem mais tenebrosa dos tempos sombrios nos quais vivemos.

Aparentemente, é muito simples. Wagner está sentado no chão do palco mexendo em um dos Bichos criados por Lygia Clark (1920-1988). Os Bichos (1959) são esculturas de formas geométricas de alumínio, que se articulam por dobradiças. De repente, Wagner se torna o Bicho para ser dobrado/esticado/articulado. E começa uma sequência de imagens que parecem vir de um poço de horrores sem fundo. No momento em que seu corpo é tocado, deixa de ser um corpo-outro para se tornar um objeto que será testado nos seus limites de desconforto, desequilíbrio e dor.

E vai ficando muito claro que agora é assim mesmo: pode-se fazer com o outro o que se quer. La Bête nos faz ver que somos nós que ajudamos a barbárie avançar.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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