Os significativos aumentos nas tarifas de energia elétrica são um dos principais motivos por trás da piora na expectativa de inflação dos consumidores, e o quadro pode agravar ainda mais o cenário de demanda desaquecida, afirmou nesta terça-feira, 24, o economista Pedro Guilherme Costa Ferreira, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV). Hoje mais cedo, a instituição informou que as famílias esperam em média uma alta de 8,4% nos preços nos 12 meses a partir de março, o maior nível já registrado na série, iniciada em novembro de 2005.
“O principal (motivo) é a questão dos preços. Há um aumento que parece generalizado, mas que é muito focado em administrados, em especial a energia elétrica. Mesmo que esse produto não pese tanto na cesta de consumo, o tamanho do aumento faz com que ele (consumidor) tenha uma expectativa cada vez maior”, disse Ferreira.
Segundo dados o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a conta de luz ficou 17,06% mais cara no ano passado, e só neste ano (até fevereiro) já subiu 11,68%, segundo o IPCA – sem contar o reajuste extraordinário médio de 23,4% concedido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a todas as distribuidoras do País a partir do início de março.
As famílias de baixa renda são as mais expostas aos gastos com tarifa de energia, uma vez que o item tem um peso maior em seu orçamento. Com isso, a expectativa inflacionária desses consumidores, cuja renda mensal vai até R$ 2,1 mil, passou de 8,2% em fevereiro para 9,3% em março. “Talvez eles estejam sofrendo um pouco mais com esse aumento”, avaliou o economista.
Nos últimos dez anos, o consumidor tem ajustado suas expectativas de inflação para níveis cada vez mais elevados – e de forma cada vez mais rápida, notou Ferreira. “Agora, parece que o consumidor vai continuar apostando em 8%”, disse o pesquisador, lembrando que a inflação esperada pelas famílias havia rompido a barreira dos 7% em abril do ano passado.
A intensificação desse pessimismo pode repercutir negativamente sobre a demanda, que ultimamente já tem estado cambaleante. “O aumento dos preços tende a diminuir a renda real das famílias. O consumidor sente que o poder de compra está diminuindo e para de comprar”, comentou o pesquisador. “Pode ser que ocorra diminuição da demanda”, enfatizou.
Embora reconheça que o governo tem trabalhado para controlar a inflação e reconduzi-la ao centro da meta (4,5%), Ferreira disse ainda que é difícil estimar quando que a tendência de deterioração será revertida.