Economia

FGV: impacto cambial no IPC-S já começou, mas ocorre de forma lenta por recessão

A influência da alta do dólar já vem afetando a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), mas os impactos acontecem de forma tímida, por causa da recessão econômica, avaliou nesta quinta-feira, 1, o coordenador do IPC-S, Paulo Picchetti, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV). “Tem uma elevação constante desde o início do ano, mas que ainda não bateu por completo sobre os preços. O nível de atividade fraco está fazendo o seu papel, mas não a ponto de conter totalmente os impactos”, afirmou.

A avaliação foi feita por Picchetti após analisar o IPC-S de setembro, que avançou para 0,42%, ante 0,21%. O dado veio dentro do intervalo das expectativas do AE Projeções (de 0,40% a 0,62%), mas abaixo da mediana de 0,44%, e exatamente como o previsto pelo coordenador.

De agosto para setembro, o grupo comercializáveis, que capta mais rapidamente as influências do câmbio, dobrou, ao atingir 0,26%. O item que mais vem sentindo essa pressão é o de computador e periféricos (de 0,33% para 1,13%), contou Picchetti, que ainda lembra de alguns produtos alimentícios que refletem esse avanço do dólar, mas de forma discreta, como é o caso de pão francês (de 1,19% para 1,53%).

Em 12 meses, citou Picchetti, a taxa do pão francês ficou em 9,98%. “Considerando que 50% da matéria-prima é importada e o trigo subiu bastante, tem, sem dúvida, um efeito importante. Ainda assim é menos que o proporcional do que seria se fosse um repasse integral da elevação do trigo”, analisou.

A taxa acumulada em 12 meses dos comercializáveis também seguiu trajetória ascendente, ao passar de 2,87% para 2,93%. “Os comercializáveis acumularam quase 3% e o câmbio se desvalorizou cerca de 40% no período. Que vem refletindo, vem, mas lentamente”, reforçou.

Serviços

Assim como o grupo comercializáveis no IPC-S vem captando os reflexos do dólar caro de maneira mais tímida, a inflação de serviços está demorando para desacelerar de forma mais significativa, ainda que a atividade esteja fraca. Apesar do arrefecimento no ritmo de alta de agosto para o mês passado (de 0,84% para 0,63%), em 12 meses terminados em setembro, a variação acumulada ficou em 14,79% (ante 15,10%). “A desaceleração no mês está por trás do resultado acumulado em 12 meses. Ainda tem elevação generalizada em termos nominais de alguns produtos e poucas quedas em termos reais (descontada a inflação)”, afirmou.

Apesar da desaceleração do grupo serviços, o economista disse que o cenário ainda é de pressão inflacionária, como corroboram os resultados dos núcleos, de preços livres e do indicador de difusão. “Tudo isso reforça claramente a análise de que não é meia dúzia de itens que são os vilões, que os responsáveis pela inflação elevada não são somente os preços administrados”, avaliou.

De acordo com a FGV, a taxa média mensal dos núcleos atingiu 0,59% e acumulou 7,73% em 12 meses concluídos em setembro, inferior à de 9,65% do IPC-S. Os preços administrados tiveram variação de 1,14% (ante 0,79%) e acumularam taxa expressiva de 30,36%. Já o indicador de difusão – que mede o quanto a alta dos preços no IPC-S está espalhada – alcançou a marca de 67,65% em setembro, após 61,76% em agosto.

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