O Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) da segunda quadrissemana de abril confirmou a avaliação de que, apesar da queda na demanda por causa do coronavírus, o varejo começa a repassar algo da depreciação cambial ao consumidor, de acordo com o coordenador do indicador, Paulo Picchetti.
Nesta divulgação, o IPC-S desacelerou de 0,38% para 0,34%, mas puxado, principalmente, pela deflação do grupo de Transportes, devido ao comportamento dos combustíveis. Os itens comercializáveis, no entanto, tiveram a terceira semana consecutiva de aceleração e atingiram a taxa de 0,3%, ante 0,24% da divulgação anterior e 0,17% no fechamento de março.
"Em termos de variação absoluta, isso não chega nem perto do câmbio. Mas começou um movimento de tendência de alguma transmissão da taxa de câmbio para os comercializáveis, isso estamos conseguindo ver", afirma Picchetti.
Mesmo assim, a tendência para o indicador é de desaceleração nas próximas divulgações, avalia o economista. No horizonte de algumas semanas, os combustíveis devem continuar sendo o destaque do índice, já que aprofundam a tendência de queda no critério ponta, que compara a coleta da segunda semana de março com a da semana imediatamente anterior.
A gasolina, que já aprofundou de -2,07% para -3,68% sua deflação na passagem da primeira para a segunda quadrissemana do mês, está com queda de mais de 6,0% na ponta. Neste critério, o etanol cai 9,0%, ante 5,23% no indicador fechado.
Nas próximas semanas, também deve ficar mais evidente a desaceleração das passagens aéreas, que subiram 7,4% na segunda quadrissemana de abril, mas, na ponta, já têm variação menor, de 6%. "É um item que vinha pressionando o índice, mas o movimento deve ser contrário nas próximas leituras e, em breve, até deflacionário, porque não tem perspectiva de retomada para o setor no curto prazo", resume Picchetti.
As pressões à vista também são negativas no grupo Alimentação, que acelerou levemente no último IPC-S (1,60% para 1,65%), mas deve começar em breve a reverter o movimento, devido ao arrefecimento dos alimentos in natura. O tomate, por exemplo, teve alívio de 17,45% para 8,71% e, na ponta, já apresenta deflação superior a 9,0%.
Picchetti também destaca que mesmo grupos que sazonalmente ficam estáveis nesta época do ano estão começando a mostrar queda nos preços. Neste caso, ele cita os cursos regulares, que aparecem com queda de 0,02% na ponta e devem aprofundar o movimento nas próximas divulgações.
O economista vai esperar os resultados da terceira quadrissemana, mas considera provável uma revisão para baixo na projeção de alta de 0,2% no IPC-S do fechamento de abril.