A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) desenvolveu uma solução para minimizar os riscos de investir em startups no Brasil. Em vez de fazer um aporte nas companhias em troca de uma participação acionária, como fazem os investidores privados, a instituição receberá uma opção de compra de ações da empresa investida.
Na melhor das hipóteses, se a startup crescer e se transformar no próximo Facebook, a financiadora pode converter sua opção e se tornar sócia de um negócio bilionário. Se ela quebrar, a Finep perde o investimento, mas fica livre do ônus de ser acionista de uma empresa falida.
A financiadora já captou R$ 20 milhões para o fundo Finep Startups, que será lançado em novembro. Os recursos serão destinados a companhias com faturamento de, no máximo, R$ 3,6 milhões, que já têm um produto desenvolvido, mas precisam de capital para conquistar mercado.
Cada empresa poderá receber um aporte de até R$ 1 milhão e, em troca, dará a Finep uma opção de compra de participação. Três anos depois de fazer o investimento, a Finep poderá exercer a opção ou renová-la por mais dois anos.
A instituição prevê o lançamento de outro edital em 2016 e outros dois em 2017, cada um com mais R$ 20 milhões. A seleção será feita por meio de uma chamada pública e vai priorizar companhias em áreas definidas como estratégicas pelo governo, como saúde, defesa e energia. A estimativa da Finep é de que 40 startups recebam investimentos até 2016.
“Não tínhamos um instrumento de apoio financeiro adequado para as empresas em estágio inicial”, diz o presidente da Finep, Luis Fernandes. Segundo ele, as novatas têm dificuldade em acessar as linhas de crédito da instituição, principalmente por não ter garantias para oferecer. “Elas precisam de capital de risco para crescer. Crédito não funciona”, disse.
O problema é que o setor privado ainda é avesso a companhias em estágio inicial. A Finep identificou uma escassez de recursos para estimular as empresas quando elas já têm um produto, mas ainda não conseguiram colocá-lo no mercado.
Muitas dessas companhias já receberam aportes financeiros dos chamados investidores-anjo – pessoas físicas que investem em startups – e precisam de mais recursos, mas ainda não estão prontas para acessar fundos que compram participações em empresas, como os de venture capital.
Para o diretor executivo da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), Guilherme Junqueira, o financiamento público pode ajudar as empresas a crescer, mas não é o ideal no longo prazo. “Em mercados mais maduros, o governo entra para fazer a empresa crescer mais rápido e para atrair a iniciativa privada, que fará investimentos de maneira mais cíclica”, disse.
Anjos
O edital do fundo para startups prevê que as empresas que apresentaram uma carta de intenção de investidores-anjo dispostos a acompanhar a Finep no investimento ganharão pontos na seleção.
Para o CEO da Brazil Innovators, André Monteiro, o modelo adotado pela Finep é positivo, pois dá preferência à startups que já passaram pelo crivo de investidores-anjo. Contudo, este critério não deve conduzir a decisão de quais empresas receberão recursos públicos. “É importante considerar a qualidade dos investidores, porque, às vezes, trata-se de alguém que só tem dinheiro e pouco entendimento para fazer uma análise adequada do projeto”, diz.
Os investidores-anjo que se aliarem à Finep também terão opções de compra nas empresas, proporcionais aos aportes que farão – definido entre R$ 50 mil e R$ 350 mil. “Isso simplifica o risco, que passa a ser só o de capital”, disse Cássio Spina, presidente da Anjos do Brasil, organização criada para fomentar investimentos nesse segmento.
O temor de ter seu patrimônio pessoal comprometido caso a empresa vá à falência afugenta investidores, diz Spina. Ele estima que metade das empresas novatas não dão retorno ao acionista. “Mas há uma ou duas de dez que dão alto retorno. Algo como 30 ou 50 vezes o capital investido. Elas compensam o risco das demais.”
Retomada
Com o fundo para startups, a Finep aumenta a oferta de capital de risco para empresas inovadoras. Criada nos anos 60, a financiadora costumava ser sócia de empresas e apoiar o seu crescimento. Mas os aportes diretos foram suspensos nos anos 80 e a empresa passou a atuar por meio de crédito e subvenção.
No início dos anos 2000, a Finep voltou a destinar parte dos seus recursos para capital de risco e se tornou cotista de cerca de 30 fundos de investimentos. A gestão dos recursos e a escolha das empresas investidas é feita pelos administradores dos fundos e não pela Finep.
Neste ano, a instituição retomou a política de compra direta de participação em companhias, por meio do fundo Inova Empresa, que captou R$ 500 milhões e fechou seu primeiro investimento em março. O fundo investiu na holding gaúcha Parit, de empresas de automação industrial e semicondutores.
De acordo com Fernandes, os recursos para os fundos da Finep já foram captados e não dependem da aprovação do orçamento para 2016, que está em negociação e pode sofrer cortes em meio ao ajuste fiscal. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.