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Fraude no bilhete único avança com esquema típico do crime organizado

A entrada de um esquema típico do crime organizado nas fraudes no bilhete único fez o número de cartões apreendidos ou cancelados pela Prefeitura de São Paulo subir 820% no último ano. Se o golpe antes se concentrava em pequenos pontos de recarga irregular, agora bandidos se organizam em um processo hierárquico que, embora em proporções menores, é comparado pela polícia à “hierarquia” do tráfico de drogas.

Dados obtidos pelo Estado, por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), apontam que no ano passado houve 78.202 cartões apreendidos ou cancelados pelo sistema interno da São Paulo Transporte (SPTrans) por irregularidades e fraudes. Em 2015, 8,5 mil cartões haviam sido cancelados ante 3,8 mil em 2014 e 3,4 mil em 2013.

Os números incluem não apenas créditos falsos, mas também bilhetes com alguma gratuidade (estudante, idoso e pessoa com deficiência) usados de forma irregular. Segundo a SPTrans, a prática de recarga falsa começou a envolveu “volumes expressivos” em 2016. Foi neste ano que teve início a força-tarefa que integra os governos municipal e estadual, com SPTrans, Metrô e CPTM, além da ação do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), para tentar entender como funciona a fraude.

Até agora, a polícia descobriu que o esquema começa com uma pessoa (ainda não identificada) que fabrica créditos falsos, usando um computador. Esses créditos são, então, transferidos pela internet para outros criminosos, que salvam essas recargas em notebooks e as revendem a outros bandidos – na analogia com o tráfico de drogas, esquema seria como o das “biqueiras” – em quantias que variam de R$ 10 mil a R$ 20 mil em créditos. Na sequência, a recarga falsa é feita nos bilhetes que são ofertados nas estações.

Segundo a polícia, no fim do dia, uma pessoa – geralmente um motoqueiro – faz a sangria e leva a maior parte do dinheiro, que varia entre R$ 600 a R$ 900 por estação. Essas informações foram coletadas depois de os policiais terem apreendido ao menos 23 notebooks e 2 mil cartões, além de ter detido 39 pessoas, segundo inquéritos analisados pelo Estado (mais detalhes nesta página). Atualmente, há equipes policiais e das empresas de transporte tentando coibir a prática em todas as grandes estações da cidade.

Na maior apreensão desse tipo de crime já feita pela polícia, no ano passado, foram encontrados 452 cartões que, somados, tinham cerca de R$ 600 mil em créditos. Eles estavam na posse de quatro homens, três deles com passagem pela polícia. A suspeita é de que o quarto estivesse com eles para comprar os cartões, pois tinha cerca de R$ 4 mil em dinheiro.

Fiscalização

Sanar as fraudes no sistema é uma das bandeira da gestão do prefeito João Doria (PSDB), que quer repassar a administração do cartão para bancos privados. Pelo bilhete, circulam cerca de R$ 18 bilhões por ano. A SPTrans estima que existam 14,3 milhões de cartões ativos na cidade, mas não consegue precisar o tamanho do prejuízo com as fraudes.

Em nota, a Companhia do Metropolitano de São Paulo informou que “realiza constantes ações de fiscalização nas linhas de bloqueios das estações para evitar qualquer irregularidade, incluindo aquelas que envolvem o uso do bilhete único”. A CPTM informou que realiza fiscalizações “no limite das dependências”, “emite avisos sonoros e faz campanhas orientando os passageiros a só usarem postos oficiais” de compra.

Já a SPTrans destacou que a atual administração “encontrou um volume acentuado de fraudes” e adotou “uma série de medidas para intensificar fiscalização e combate às fraudes”. Em janeiro, a empresa anunciou o cancelamento de 9,9 mil bilhetes por suspeita de irregularidades. Mas ter o cartão bloqueado não é garantia de que houve algum problema. Em alguns casos, trata-se de erro da própria empresa.

Foi o que aconteceu com o produtor de vídeos Flávio Galvão de Morais, de 41 anos. Ele teve o cartão bloqueado há um mês e, segundo a informação que recebeu da SPTrans, o motivo era “suspeita de fraude”. “Eu nunca coloquei crédito em nenhum lugar que não fosse o próprio guichê ou as máquinas nas estações. E também não comprei o cartão de fora, mas na estação mesmo.”

Moraes se queixa que, desde o bloqueio, não conseguiu reaver os créditos que estavam em seu cartão. “A gente perde dia de trabalho por causa disso. E ainda tem de vir para essa central (da SPTrans, localizada na região central), que fica longe de tudo e, às vezes, nem consegue ser atendido”.

Procurada pela reportagem, a São Paulo Transporte informou que uma análise comprovou que não houve fraude no cartão de Moraes. Segundo a empresa, ele receberá um novo cartão com seus créditos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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