O apetite estrangeiro pelos ativos brasileiros mudou de tendência após a decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia. Desde o fim de junho, mais de US$ 2 bilhões migraram para fundos de investimento em títulos de dívida e ações do Brasil, segundo levantamento da consultoria EPFR Global realizado com exclusividade para o Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
A incerteza gerada pelo que ficou conhecido como “Brexit” dá sobrevida à era do juro baixíssimo no mundo. Diante de taxas negativas ou próximas de zero no exterior, segundo os analistas, cresce o apetite por risco e o Brasil, que começa a arrumar a casa, surge como uma opção.
Desde o fim de junho, carteiras que investem em ativos brasileiros voltaram a atrair recursos e em volume crescente. Segundo a EPFR, fundos que investem na renda fixa brasileira atraíram US$ 1,1 bilhão de investidores estrangeiros entre 30 de junho e 3 de agosto.
Nesse período, carteiras com ações brasileiras captaram US$ 937 milhões. Ao todo, portanto, o Brasil atraiu fluxo líquido de US$ 2 bilhões em cinco semanas.
O dado parece especialmente relevante quando o fluxo de capital estrangeiro é colocado em um horizonte mais longo. Durante os primeiros meses do ano, estrangeiros saíram em debandada do Brasil e US$ 1,3 bilhão foram sacados em nove semanas entre janeiro e o início de março.
Com a perspectiva de troca de governo e indicação de uma equipe econômica que defende o ajuste fiscal, investidores voltaram gradativamente e, no acumulado de 11 semanas que antecederam a troca de governo, fundos brasileiros atraíram US$ 2 bilhões – mesmo valor observado no pós-Brexit, mas com período duas vezes maior.
Desde a chegada de Michel Temer, porém, o fluxo voltou a mudar de tendência e US$ 446 milhões saíram entre meados de maio e a semana do plebiscito britânico, informa a EPFR.
Os analistas da agência de classificação de risco Standard & Poors explicam que a expectativa de políticas monetárias mais expansionistas do Banco da Inglaterra, Banco Central Europeu e Federal Reserve, após o Brexit, levou para as mínimas históricas o retorno de longo prazo dos papéis das economias desenvolvidas. “Isso forçou investidores sedentos por retorno a procurar alternativas”, resumem.
Esse fenômeno, porém, não é exclusivo do Brasil e ajuda várias outras economias em desenvolvimento. O fluxo para fundos brasileiros, porém, tem sido potencializado por vários fatores como o elevado juro de 14,25%, a indicação de reformas e até a melhora das condições da China.
Alinhamento
O diretor da gestora EM Funding em Londres, Wilber Colmerauër, diz que houve um alinhamento externo e doméstico que deflagrou essa nova onda de capital estrangeiro para o País. “O Brexit gerou uma grande incerteza em uma das economias mais estáveis do mundo. Na incerteza, a diversificação fica ainda mais importante. E, como todo mundo estava vendido em Brasil, havia muito espaço para remontar posições”, diz.
Nessa hora, segundo Colmerauër, o estrangeiro lembra do Brasil, por que o País tem reservas elevadas, não tem problema de crédito externo e o investimento produtivo continua relativamente forte. “Além disso tudo, ainda oferece juro de 14%.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.